Moro na rua dos Antônios. São tantos Antônios que eles são identificados pelos nomes das esposas, como o Antônio da Vanda, por exemplo. Outros pelo apelido como o Totó. Um desses Antônios é o Toninho. Um jovem senhor de 89 anos, que vive correndo de um lado para o outro com seu fusquinha branco. No ano passado ele foi picado por uma jararaca. Ele está bem. Foi ele que me contou essa história.
A casa do Toninho é uma casa antiga, com porão e piso de madeira. Para não dar cheiro de mofo na casa ele cobre o piso do porão com folhas de eucalipto. Mas, periodicamente ele tem que trocar as folhas que perdem o cheiro. Numa dessas trocas ele desceu até o porão. E, vá saber lá porque, nesse dia ele não estava com seu velho par de botas. Ele foi puxando as folhas e juntando num monte. Uma jararaca dormia no porão no meio das folhas. Como o porão é escuro o Toninho não viu a jararaca e puxou a bichona junto com as folhas. A jararaca despertou e percebendo o perigo armou e deu o bote na perna desprotegida de Toninho. Ele viu a jaracaca, mas não teve tempo de se safar. A picada já estava dada. Ele precisava agir rápido. Pegou uma ferramenta que estava à mão e acertou a jararaca. Pegou a bicha e levou para fora. Correu até a casa. Chamou a esposa e avisou do acontecido. Precisa ir urgente ao hospital. Chamaram um dos filhos que foi dirigindo. Ele já sentia as dores do efeito do veneno na perna. Rapidamente chegaram ao hospital ele foi atendido e medicado. Por muitos meses ele ficou sentindo a perna, mas pouco tempo depois lá estava ele correndo prá lá e prá cá com seu fusquinha.
No final da nossa conversa perguntei ao Toninho: -Quantas serpentes o senhor já viu na vida? -Muitas. Quando era jovem era mais comum encontrar serpentes. Hoje nem tanto. -E, quantas vezes o senhor foi picado? -Só dessa vez. -E, porque o senhor acha que foi picado? -Estava descalço num lugar onde cobras podem se esconder. Fui incalto.
M. Eiterer
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