"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

Ciência no Jardim

'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell

Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?

Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?

Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?

Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.

A margarida não é uma só flor

Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?

Plantas que fogem do jardim

Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.

14 de jan. de 2011

A ave e o mosquito

 A história de como o pardal chegou no Brasil

São duas histórias que se confundem, a de uma pequena ave e a de um mosquito. Ambos exóticos, isto é, espécies introduzidas em uma área onde não existiam originalmente. Eles foram  introduzidos no Brasil em momentos e de formas diferentes, mas os dois colonizaram rapidamente o território brasileiro. Vou começar pelo mosquito porque ele chegou primeiro. Nossa briga com ele não é de hoje. Sim, ele mesmo! O tão falado Stegomyia aegypti. Ele chegou ao Brasil no século XVII. Ficou surpreso?  Espere então até ouvir o resto dessa história.
Aedes aegypti. Foto: wikipedia.
Stegomyia aegypti chegou aqui de navio, por volta de1685, quando ocorreu a primeira epidemia de febre amarela. Isso mesmo! Ele chegou de navio! O Stegomyia aegypti chegou pelo porto de Recife (Pernambuco).  O Stegomyia aegypti não consegue voar grandes distâncias, poucas vezes seu voo  excede os 100 metros. Assim, é mais provável que o mosquito passe toda sua vida nas proximidades do local  onde nasceu.  O Stegomyia aegypti consegue alcançar grandes distâncias nas fases de larva e ovo, quando transportados em recipientes. O que provavelmente aconteceu com os navios que chegavam aqui naquela época. Nós transportamos o Stegomyia aegypti de um lugar para outro. Um ano depois já estavam na Bahia causando uma epidemia de febre amarela com muitas mortes. Mas somente em 1898 é que foi comprovado que ele era o transmissor da febre amarela e apenas no início do século vinte  que foram adotadas medidas específicas contra o Stegomyia aegypti. O Rio de Janeiro só se veria livre da febre amarela em 1909. E a dengue? Nosso maior temor nessa época era a febre amarela, a dengue só começaria a nos assombrar em 1923 e 1982. O outro personagem dessa história, a ave, foi introduzida em 1906. Já sabemos que ela foi introduzida no Brasil por causa do mosquito e da febre amarela. Mas, que ave é essa? De onde ela veio?

No Brasil, existem muitas aves comedoras de insetos, como o bem-te-vi ou as andorinhas,  por exemplo. Mas mesmo assim, em 1906, foram trazidos 200 indivíduos de uma espécie de ave, de Leça da Palmeira, Portugal, para o Rio de Janeiro, para combater o mosquito Stegomyia aegypti  A tal ave não era portuguesa e sim de origem asiática. Rapidamente espalhou-se pelo Brasil. Assim como o mosquito, ela se tornou comum. Há até quem ache que é uma ave brasileira. Apenas cinquenta  e quatro anos depois,  de sua introdução, o Ministério da Agricultura já criava uma portaria colocando essa pequena ave no topo da lista de animais nocivos para o país,  seguido pelos morcegos hematófagos e ratos.  Hoje, ele é, provavelmente, a terceira ave mais numerosa no mundo, a galinha doméstica (Gallus gallus)  é a primeira seguida do  estorninho (Sturnus vulgaris). Próximo a  sua casa deve ter um bando deles, pois o pardal é gregário, isto é, vive em bandos. 
 Pardal macho (Passe domesticus). foto: M.Eiterer.

Há quem torça o “bico” quando ouve o nome dessa pequena criatura de apenas 30 g. Pardal. Ele mesmo! O  pardal. Seu nome científico é Passer domesticus. Inteligente. Atento. Desconfiado. Percebe quando é perseguido e  some. Ele vive nas  cidades,  sempre perto de casas e  depende do ser-humano para sobreviver. O pardal faz seu ninho em beirais, fendas e buracos de nossas casas. Seus inimigos não são poucos: ratos, gambás, morcegos, corujas, gaviões são alguns deles. Em cativeiro chega a viver 23 anos.

O pardal não se alimenta exclusivamente de  insetos, seu bico é projetado para esmagar grãos. Ele  é um onívoro. Os machos e as fêmeas são diferentes. O macho tem um babador preto, a testa e o alto da cabeça cinzas e o dorso acastanhado com marcas escuras. As fêmeas não possuem babador preto, sua plumagem é marrom clara e tem uma sobrancelha branca que vai do olho até a nuca. A voz do pardal é rouca e barulhenta.
Stegomyia aegypti foi considerado erradicado do Brasil por duas vezes .  A primeira em 1955. Mas, ele voltou pouco tempo depois em 1967, novamente pela costa, em Belém (Pará). Foi erradicado pela segunda vez em 1973. Então, é possível erradicar o mosquito? Sim. Mas não conseguimos evitar sua reintrodução, pois ele foi reintroduzido em 1976, novamente por um porto, agora em Salvador (Bahia). E, o pardal? Cento e quatro anos depois de sua introdução deliberada,  o pardal tornou-se um animal antipatizado. Chegou aqui como um herói, hoje é um invasor rechaçado.  Agora você conhece a história do pardal e do Stegomyia aegypti, história onde nós somos os personagens principais. 

 Fontes

COSTA,  Felipe A. P. L. Qual é o nome do mosquito? Observatório da Imprensa, edição 737. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/qual_e_o_nome_do_mosquito>. Acesso em: 20/03/2013.

MINISTÉRIO DA SAÚDE.  Manual de vigilância epidemiológica da febre amarela. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional da Saúde, 1999.

SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.