"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

Ciência no Jardim

'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell

Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?

Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?

Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?

Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.

A margarida não é uma só flor

Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?

Plantas que fogem do jardim

Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.

29 de nov. de 2010

Sobre néctar e nectário

Néctar é o nome da solução açucarada produzida pelas plantas no interior de uma estrutura secretora chamada nectário. Desde os tempos de Aristóteles, no século 4 a.C., já se sabia que as abelhas coletavam uma substância adocicada produzida pelas flores e que a estocavam em suas colméias. Naquela época, porém, ainda não se fazia distinção entre néctar e mel.
A palavra  néctar foi usada pela primeira vez pelo botânico francês Jean de la Ruelle (1474-1537). O termo nectário, no entanto, só apareceu na literatura científica quase 200 anos depois e o primeiro a usá-lo, ao que parece, foi Carl von Linné (1707-1778), em 1735.
 Flor da laranjeira. Foto: M. Eiterer. Nectário da flor da laranjeira. Foto: M. Eiterer.
Os nectários surgiram antes das flores. A planta com nectários mais primitiva que se conhece, a samambaia Pteridium aquilinum, não possui flores [1]. Entre as gimnospermas, plantas igualmente desprovidas de flores, nectários são particularmente comuns em espécies dos gêneros Ephedra (Ephedraceae) e Welwitschia (Welwitschiaceae). Foi só com o surgimento das angiospermas que os nectários passaram a produzir néctar como atrativo floral.
Alguns autores modernos argumentam que os nectários estariam inicialmente envolvidos com a excreção do excesso de açúcar produzido pelas folhas. Há, porém, outras interpretações. Seja qual for a origem dos nectários, produzir néctar é uma função sabidamente dispendiosa. Para ter uma idéia, o volume de néctar produzido por uma planta pode consumir até 37% de toda a sua produção fotossintética diária [2]. Não é à-toa, portanto, que as plantas sejam capazes de reabsorver (isto é, metabolizar) seu próprio néctar, utilizando os produtos desse metabolismo em outras funções.

 

Uma questão de nomenclatura 

Nectário extrafloral no pecíolo da folha de maracujá. Foto: M.Eiterer.
A relação entre néctar e polinização só foi estabelecida no século 19, graças aos estudos de Christian K. Sprengel (1759-1816), F. H. G. Hildebrand (1835-1915) e Charles Darwin (1809-1882). Na mesma época, Johann X. R. Caspary (1818-1887) propôs uma distinção entre nectários florais e extraflorais. Nectários florais seriam aqueles que ocorrem dentro de flores, enquanto os extraflorais seriam encontrados nas partes vegetativas do corpo da planta, como pecíolo, lâmina foliar etc. Um exemplo familiar de planta com nectário extrafloral é o maracujá comum (Passiflora), cujo pecíolos foliares ostentam um par dessas estruturas.
Uma nomenclatura alternativa para os nectários, levando em conta aspectos funcionais, foi proposta pelo botânico italiano Federico Delpino (1833-1905). De acordo com ele, teríamos dois tipos de nectários: o nupcial e o extranupcial. O primeiro seria aquele nectário que participa mais diretamente do processo de polinização (as 'núpcias'), enquanto o segundo não estaria envolvido nesse processo. A nomenclatura proposta por Caspary, contudo, terminou prevalecendo.

 

M. Eiterer  & Felipe A.P.L. Costa

Felipe A.P .L Costa é biólogo, autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006).
Notas
1. Outras espécies de samambaias também possuem nectários; ver, por exemplo, Koptur, S.; Rico-Gray, V. & Palacios-Rios, M. 1998. Ant protection of the nectaried fern Polypodium plebeium in central Mexico. American Journal of Botany 85: 736-739.
2. Para um estudo meticuloso, ver Pyke, G. H. 1991. What does it cost a plant to produce floral nectar? Nature 350: 58-60.

25 de nov. de 2010

Tem um ladrão acrobata no jardim!



Cambacica


Cambacica (Coereba flaveola). Foto:M.Eiterer
Certamente você já viu esse ladrão acrobata no seu jardim. É o pássaro mais comum em jardins e quintais. Ele lembra um bentevizinho. Ele mede aproximadamente 10cm. Seu bico é curvo e afiado. Ele tem sobrancelhas brancas e uma máscara preta cobre os olhos. Seu dorso é cinza-esverdeado, a garganta cinza e a barriga amarela. Este pássaro foi descrito pela primeira vez por Linnaeus em seu 'Systema Naturae' em 1758. Seu nome científico é Coereba flaveola ( Coerebidae).
Ele é conhecido, no Brasil, pelos mais diversos nomes, como: cambacica, mariquita, chupa-mel, chiquita, caga-sebo, cabeça-de-vaca, sebito, guriatã-de-coqueiro, sebinho, papa-banana, saí e tem-tem-coroado. A fêmea e o macho são muito parecidos, sendo o macho, apenas, um pouco maior. O macho canta sem cansar. Podemos ouvir seu canto a qualquer hora do dia e época do ano. A fêmea também canta, mas pouco e por menos tempo.
São brigões como os bem-te-vis. O alimento principal do cambacica é o néctar. Mas, ele também come frutas e insetos. Com o bico curvo e afiado ele perfura o cálice de flores, cujos nectários, ele não pode alcançar, deixando de realizar o trabalho de polinizar as flores. É comum vê-lo perfurando o cálice do malvavisco (Malvaviscus arboreus), de grandes flores vermelhas pendentes. É, por este motivo, conhecido como um ladrão de néctar. Explora flores de tamanhos e formas muito variadas. Consegue ficar de cabeça para baixo agarrando-se com as unhas afiadas, para conseguir alcançar as flores. Acrobacia semelhante fazem as saíras (Thraupidae). Por causa do néctar pegajoso, toma banho com freqüência. Limpa o bico passando-o de um lado para o outro num galho.


Furo no cálice de um malvaviscus. Foto:M. Eiterer.

O cambacica constrói seu ninho sobre arbustos, a poucos metros do chão. O ninho tem a forma de uma bola. Interessante é que o cambacica constrói dois tipos de ninhos, um ninho menor de construção frouxa, apenas para dormir. O outro ninho, bem acabado, de paredes espessas e acesso pequeno, entrada com alpendre, construído pelo casal para a reprodução. Os ovos são pequenos (4 cm de diâmetro), brancos manchados de marrom. A incubação dos ovos é tarefa exclusiva da fêmea e dura 13 dias. Os filhotes nascem cegos e sem penas. Os filhotes são alimentos com insetos regurgitados pela fêmea. A mãe também cuida da higiene do ninho, ela ingere os sacos de fezes dos filhotes ou carrega-os para longe. Os filhotes saem do ninho com 19 dias. O jovem cambacica é um pouco diferente do adulto, não tem as sobrancelhas brancas e a máscara preta, seu dorso é cinza e o ventre amarelo. Movimenta-se com certa dificuldade, mas já consegue dar pequenos vôos, sempre acompanhado por um dos pais.

Agora que você conhece melhor o cambacica, eu tenho certeza que você irá prestar mais atenção nele, quando ele aparecer no seu jardim. 


M. Eiterer



Fonte
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.



23 de nov. de 2010

Segredos do florescimento

Segredos do florescimento

   Botão de falso-irís (Neomarica caerulea, Iridaceae). Foto: M. Eiterer.Flor aberta de falso-irís (Neomarica caerulea, Iridaceae). Foto: M. Eiterer.
 As primeiras angiospermas (ou plantas com flores) surgiram há uns 130 milhões de anos. Cerca de 230 mil espécies diferentes de angiospermas já foram formalmente descrita e nomeadas pelos botânicos. Assim como ocorre com os seres humanos, as plantas também passam por fases ou estágios de desenvolvimento.

Nas plantas, no entanto, as mudanças de fase não provocam alterações em todo o corpo do organismo, mas apenas em certas regiões, notadamente no ápice do caule, onde está localizado o meristema apical. O ápice do caule passa por três fases: juvenil, vegetativa e reprodutiva. É na fase reprodutiva que a planta passa a produzir flores. A flor nada mais é do que um ramo de crescimento efêmero, ornado com "folhas especiais" que servem para a reprodução sexuada - i.e., a produção de descendentes geneticamente distintos. Mas o que faz com que uma planta floresça, passando assim da juvenilidade para a maturidade?

A floração é um evento complexo. Sob determinadas circunstâncias, a planta recebe um sinal de que está na hora de florescer. Esse sinal pode ser de origem interna (da própria planta) ou externa (do ambiente em que a planta cresce). Os sinais internos podem ter a ver com a idade, tamanho ou número de folhas que a planta sustenta. Os sinais externos mais comuns são o comprimento do dia [1] ou a temperatura [2].

As folhas e raízes são os órgãos normalmente envolvidos com o reconhecimento desses sinais. O sinal adequado induz a planta a produzir determinada resposta, que pode ser traduzida por uma aumento na concentração de um ou outro sinalizador químico. Quando chega no lugar apropriado - no caso, o ápice caulinar -, o sinalizador químico termina evocando [3] a floração. Uma planta pode precisar de mais de um sinal, mais de uma resposta química e percorrer vários caminhos até conseguir evocar a floração. Quando a evocação ocorre, o meristema apical deixa de produzir folhas e passa então a produzir flores.

Até as primeiras décadas do século 20, acreditava-se na existência de um "florígeno", uma substância que induziria qualquer planta a florescer. Hoje sabemos que não existe um florígeno ou um anti-florígeno universal; ao contrário, sabemos que há vários inibidores e promotores (o etileno promove a floração do abacaxi) e, vários caminhos até a floração. Não é de estranhar; afinal, as angiospermas colonizaram e se reproduzem nos mais diversos hábitats do planeta.

Algumas plantas ornamentais são comercializadas floridas, a despeito da época do ano, como é o caso de crisântemos (Dendranthema grandiflorum), calânchoes (Kalanchoe blossfeldiana), poinséteas (Euphorbia pucherrima) e íris (Neomarica caerulea). Isso, no entanto, só é possível por causa de pesquisas que buscam descobrir os segredos do florescimento, permitindo assim recriar de forma artificial as condições necessárias para evocar a floração dessas espécies durante todo o ano.


M. Eiterer



Notas:
1-As plantas reconhecem e respondem a diferenças no comprimento do dia (dias longos e noites curtas no verão contra dias curtos e noites longas no inverno), por isso algumas plantas florescem no inverno e outras no verão.
2-Agumas plantas precisam receber baixas temperaturas por um período para florescerem.
3-Vocação e um termo semelhante a induzir, mas nesse caso refere-se a mudanças no ápice caulinar que provocam a produção de flores.

 




22 de nov. de 2010

Quanto tempo vive uma flor?

Flor de abóbora. Foto: M.Eiterer.
No filme `Dênis, o Pimentinha` (1993), o Sr. Wilson, personagem de Walter Matthau (1920-2000), é um jardineiro amador. Durante muitos anos, ele dedica cuidados redobrados a uma planta grandiosa e especialíssima: ela só floresce a intervalos multianuais e, quando o faz, a flor dura apenas alguns minutos de uma única noite. O personagem organiza uma festa em comemoração a evento tão especial mas, graças às travessuras do Pimentinha, termina perdendo a floração e só vê a flor quando ela está murcha.

De fato, algumas flores abrem e murcham em questão de horas. A flores da "glória-da-manhã" (Ipomoea purpurea), por exemplo, permanecem abertas por apenas uma manhã. No outro extremo do espectro, estão as flores de algumas espécies de orquídeas que duram algumas semanas. Como os botânicos explicam toda essa variação na longevidade floral?

A flor é uma estrutura reprodutiva. Nela estão os órgãos sexuais masculinos e/ou femininos. Na maioria das plantas, as flores possuem estruturas reprodutivas dos dois sexos, mas em outras elas estão em flores distintas ou mesmo em plantas individuais diferentes. A antera é o órgão floral responsável pela produção do gameta masculino e seu empacotamento, formando o grão de pólen. Os grãos de pólen produzidos por uma flor precisam viajar até outras flores. Nessa viagem o pólen pode ser transportado por insetos (abelhas, borboletas, mariposas, besouros, vespas etc), aves (beija-flores), mamíferos (morcegos etc) ou por agentes físicos (vento, água).

A viagem dos grãos de pólen pode ser rápida ou longa, estando eles programados para sobreviver a essa jornada. O ovário é o órgão responsável pela produção dos óvulos que contém os gametas femininos. O estigma é a estrutura receptora de pólen. O grão de pólen deverá cair sobre o estigma, onde terá condições de germinar, para penetrar no tecido estigmático e alcançar o óvulo, dentro do ovário e fertilizá-lo. Após a fertilização, o ovário passa por transformações e passa a ser chamado de fruto, onde se desenvolvem as sementes, que eventualmente darão origem a novos descendentes.

A longevidade floral é o período de tempo durante o qual a flor permanece aberta e funcional, podendo então dispersar e/ou receber grãos de pólen. Algumas plantas aceitam o "casamento entre irmãos" - i.e., ela aceita que os óvulos sejam fertilizados pelo seu próprio pólen. Outras, no entanto, não aceitam e esperarão pela chegada de pólen vindo de outro indivíduo. O segundo caso pode ser mais demorado e, por conta disso, a flor pode permanecer aberta e funcional por um período mais longo. Em contrapartida, isso implica no aumento da variabilidades entre a prole, o que pode ser biologicamente vantajoso.

Esse comportamento de sustentar flores por mais tempo pode ter contribuído para que certas famílias, como as orquídeas e as asteráceas (margarida, dália, girassol etc.), tenham se tornado particularmente numerosas e diversificadas. A flor não é um órgão fotossintético, sendo basicamente uma estrutura importadora de recursos produzidos e elaborados nas partes vegetativas da planta (folhas, raízes, caule). Isso impõe limites ao modo como as plantas equilibram a produção de mais flores novas frente à manutenção de flores velhas por mais tempo.

O próprio lugar onde a planta vive pode favorecer o surgimento de plantas que produzem flores que vivem muito tempo. Em lugares onde os polinizadores são raros, como em altas altitudes, as flores podem viver mais tempo, à espera de grãos de pólen trazidos por algum visitante. As atividades humanas podem, ainda, interferir em todo esse cenário. Hábitats fragmentados, por exemplo, podem aumentar ainda mais a raridade de polinizadores especializados e que já são naturalmente raros. Se o "casamento" não ocorre, as sementes não são formadas e a população de plantas pode diminuir ainda mais de tamanho.

Se você quiser saber qual é o tempo de vida de suas flores preferidas, amarre uma linha colorida (linha de bordar ponto cruz, por exemplo) em alguns botões (se necessário, use linhas de cores diferentes para identificar botões individuais). Quando eles abrirem, registre a data e monitore o que acontece nos dias subseqüentes. Fique atento, pois o tempo exato de duração pode variar mesmo entre flores de uma mesma planta e/ou as condições de crescimento. No fim das contas, esse é apenas mais um capítulo do trabalho dos botânicos que buscam desvendar os mistérios do mundo das flores.

M. Eiterer

Flores que mudam de cor

São plantas que produzem flores de duas cores ou são flores que mudam de cor?


Bignoniaceae. Foto: M. Eiterer

Algumas das plantas mais comumente cultivadas em jardins domésticos são admiradas por um motivo bastante curioso: suas flores mudam de cor. Esse é o caso do Cambará (Lantana camara, Verbenaceae), da Papoula-de-duas-cores (Hibiscus mutabilis, Malvaceae), do Manacá-da-serra (Tibouchina mutabilis, Melastomataceae) e do Manacá-de-cheiro (Brunfelsia uniflora, Solanaceae). Nessas e em muitas outras espécies, é bom frisar, as plantas não produzem flores de cores diferentes. São as flores que mudam de cor ao longo do seu tempo de vida. Eventos florais desse tipo só podem ser percebidos mais claramente quando o observador acompanha o destino de flores individuais.
A mudança de cor é um fenômeno relativamente comum entre as angiospermas. Ocorre enquanto a flor ainda é jovem, não devendo tal mudança ser confundida com a perda de cores e o escurecimento que acompanham o processo de senescência. Em termos funcionais, são conhecidos ao menos sete diferentes mecanismos associados à mudança de cor das flores, envolvendo três grandes classes de pigmentos vegetais (carotenóides, flavonóides e betalaínas).
Carotenóides, flavonóides e betalaínas são compostos secundários que, além de dar cor a flores e frutos, têm outras importantes funções biológicas. As betalaínas são responsáveis por um leque de cores (amarelo, alaranjado, vermelho, rosa, púrpura), sendo encontradas porém apenas em plantas da ordem Caryophyllales. Como exemplos, podemos citar a Rosinha-de-sol (Aptenia cordifolia, Aizoaceae), Periquito (Alternanthera ficoidea, Amaranthaceae), Três-marias (Bougainvillea spectabilis, Nyctaginaceae), Onze-horas (Portulaca grandiflora, Portulacaceae), Beterraba (Beta vulgaris, Chenopodiaceae) e os cactos em geral (Cactaceae).
Os carotenóides são responsáveis por um leque semelhante de cores (amarelo, alaranjado, vermelho, marrom), sendo encontrados na cenoura, tomate, laranja, pimenta e nas flores do Cravo-de-defunto (Tagetes erecta, Asteraceae). Por fim, temos os flavonóides, responsáveis pela maioria das cores observadas em flores e frutos (amarelo, alaranjado, vermelho, azul). As antocianinas são o grupo mais comum de flavonóides.

As betalaínas e antocianinas não co-ocorrem em uma mesma planta. Quer dizer, plantas que têm antocianina não possuem betalaína, e vice-versa. Flavonas e flavonóis também são grupos de flavonóides encontrados em flores, principalmente nos chamados guias de néctar. Esses pigmentos absorvem certos comprimentos de luz que são invisíveis ao olho humano, mas que são visíveis para outros animais (muitos insetos, por exemplo). De todos os mecanismos bioquímicos e fisiológicos associados com a mudança de cor das flores, a manifestação da antocianina é o mais comum deles.

 Cambará (Lantana camara , Verbenaceae). Foto: M. Eiterer. 
Fatores ambientais, como diferenças no pH do solo, podem levar a mudanças na coloração das flores. Essas mudanças também podem ser pré-programadas, como ocorre com a Pata-de-vaca (Bauhnia monandra, Leguminosae). A flor jovem da pata-de-vaca é esbranquiçada, com uma grande mancha vermelha no meio da pétala central; em determinado momento da vida da flor, no entanto, a pétala central curva-se para trás, como querendo se esconder. Após a conclusão desse movimento, todas as demais pétalas tornam-se rosa. Assim, o que no início era uma flor branca com uma grande mancha vermelha em uma das pétalas transforma-se em uma flor uniformemente rosa.


Descrever os mecanismo pelos quais as flores mudam de cor é um dos objetivos dos estudiosos que lidam com o assunto. Resta, no entanto, um outro, ainda mais complexo e difícil: identificar as pressões seletivas que teriam favorecido a evolução de tal comportamento. 

M. Eiterer 




21 de nov. de 2010

Você sabia que a margarida não é uma só flor?

Você sabia que a margarida não é uma só flor?


A margarida,
uma reunião de muitas flores.
Foto: M. Eiterer
Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?

Áster significa estrela em latim, e é por causa da distribuição de suas flores, que lembra o astro, que as margaridas e as outras flores de sua família levam este nome científico. Há, na margarida, inúmeras flores muito pequenas, que crescem bem próximas, uma ao lado da outra, sobre uma mesma estrutura. Esse conjunto de flores é chamado, entre os pesquisadores, de inflorescência. Para o tipo de inflorescência particular das margaridas – pequeninas flores, que funcionam perfeitamente crescendo juntas parecendo uma única flor –, os botânicos dão um nome especial: pseudanto (pseudo = falso; anthos = flor), ou seja, falsa flor.

Tente examinar a falsa flor da margarida aproximando-se bem dela. Você verá que há ali reunidas dois tipos de flores: umas formam o miolo amarelo, enquanto as outras formam a borda esbranquiçada. Mas não pense que elas crescem assim juntas apenas para que possamos admirar sua união. Essas flores têm funções biológicas importantes quando unidas, como a de produzir néctar, atrair polinizadores, além de gerar e receber pólen. Para isso, se dividem para desempenhar essas diversas “tarefas”. Muitas começam a desabrochar das extremidades em direção ao centro, assim, enquanto as flores da periferia estão na fase feminina – durante a qual são capazes de receber pólen –, as flores mais centrais estão na fase masculina – na qual liberam seu próprio pólen.

Flores amarelas (no centro) e
brancas (periféricas) da margarida.
Foto: M. Eiterer

Agora que você já sabe um pouco mais sobre as flores da margarida, que tal viver um dia de botânico e analisar mais de perto ainda essa flor? Para isso, você vai precisar somente de uma lupa e de um pouco de paciência. Tente separar e contar as flores da margarida e identificar os dois tipos de flores que formam sua inflorescência. Saiba que as margaridas e tantas outras flores de sua família ainda guardam muitos segredos que os botânicos estão tentando desvendar. Quem sabe você se apaixona por uma margarida e acabe se juntando a eles no futuro?

lb8-s Eiterer, M. você sabia que a margarida não é uma só flor? Revista Ciência Hoje da Criança, nº 178.





  A autora
Marinês Eiterer Marinês Eiterer gosta de plantas e jardins desde criança. Por isso foi estudar biologia. Plantou tantas árvores que perdeu a conta. Hoje identifica plantas e escreve sobre elas.