Ciência no Jardim
'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell
Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?
Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?
Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?
Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.
A margarida não é uma só flor
Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?
Plantas que fogem do jardim
Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.
24 de dez. de 2010
A árvore de natal
20 de dez. de 2010
O dia em que não matamos uma serpente
Eu costumava contratar um assistente para ajudar na organização do meu jardim. Ele era um jovem, tinha uns 14 anos, na época. Seu nome era Carlos. Como a maioria das pessoas, ele tinha um medo terrível de “cobras”. Além disso, ele adorava contar casos das muitas “cobras venenosas” que encontrou e matou. Um dia ele estava trabalhando no meu jardim e…
— Encontrei uma “cobra”! Encontrei uma “cobra” — berrou Carlos.
— Onde? Onde? — perguntei, correndo e sua direção, já levando o meu guia de serpentes.
— Aqui! Olha ela aqui! — disse, apontando para um monte de capim — Posso matar? Posso matar? Ela pode “morder” alguém!— rogou, já com a enxada em punho pronto para deferir o golpe mortal .
— Espera! Eu quero ver como ela é — disse.
Olhei com calma. Carlos tinha toda a razão. Lá estava ela, toda enrolada, quietinha, debaixo do capim. Era realmente uma serpente, que erroneamente ele chamava de “cobra”. O correto é serpente. Existe um gênero de serpente chamado Cobra, que vive na Ásia. Mas, ele certamente não prestou muita atenção nas aulas de ciências. Abri o meu guia de serpentes e lá estava ela, a jararaca-dormideira ou come-lesma, uma serpente inofensiva:
— É uma cobra-come-lesma. É um animal inofensivo — disse.
— Não, retrucou ele — É uma jararaca. Ela é venenosa. Vamos matar!
— Não é uma jararaca. É uma come-lesma, como o nome diz ela come-lemas. É inofensiva — insisti.
— Tem certeza? É melhor matar!
— Tenho certeza. E não se diz venenosa, o certo é peçonhenta. A come-lesma não é peçonhenta. Um animal peçonhento é aquela que produz e tem estruturas para inocular a peçonha. Peçonha é a substância tóxica que algumas espécies de serpentes produzem. Esta que você quer matar apenas anestesia a presa com uma droga presente na saliva, ela não produz peçonha e nem tem as presas — expliquei.
— Sério? Mas, ela é preta e branca!
— São desenhos diferentes da jararaca. Olhe! Veja aqui no livro. Esta é uma jararaca e esta é uma cobra-come-lesma. Viu! Elas são diferentes. Olhe, a pobrezinha está dormindo. Durante o dia ela fica debaixo de folhas, galhos, troncos ou pedras dormindo toda enrolada. Durante a noite ela sai para caçar. Por causa, do desenho parecido com o do jararaca e por ficar dormindo de dia, elas são, também, conhecidas pelo nome de dormideira, jararaca-dormideira ou jararaca-preguiçosa.
— Eu já acho tudo igual. Por mim matava. Vai que você olhou errado no livro.
— Não precisa matar, Carlos — disse. Elas são mais comuns agora no período de chuva, quando, também, as lesmas e caracóis são mais comuns. Por este motivo, são conhecidas, também, por come-lesmas ou jararaca-da-chuva. E, por serem comuns nos jardins são às vezes chamadas de cobra-de-jardim.
— Então é mesmo uma “cobra” inofensiva? Não precisa matar. Tem certeza? — insistia, já meio decepcionado.
— Tenho certeza, Carlos! E mesmo que não fosse, não devemos matar um animal apenas porque temos medo dele. Não é mesmo?
— É…tudo bem, esta eu vou deixar viva, mas eu ainda tenho medo de cobras.
Assim, a pequena serpente pôde seguir seu caminho naquele dia. Hoje, Carlos já é um homem feito. Espero que ainda se lembre dessa história, do dia em que ele não matou uma serpente.
M. Eiterer
11 de dez. de 2010
Néctar: água, açúcar e uma pitada de...
À medida que as investigações em torno da interface planta/polinizador progrediam, alguns pesquisadores se voltaram para o estudo da composição química do néctar. Um trabalho pioneiro nessa área foi realizado por Gaston Bonnier (1853-1922), botânico francês que quantificou os diferentes tipos de açúcares presentes no néctar de algumas flores. Boa parte do que sabemos hoje sobre a composição química do néctar deve-se, porém, ao amplo e meticuloso trabalho do casal Baker - os ingleses Herbert G. Baker (1920-2001) e Irene Baker (1918-1989) [1].
Sabemos hoje que o néctar é primariamente uma solução energética, composta de água e açúcares (sacarose, frutose, glicose). Mas não é só isso: trata-se de uma solução energética devidamente temperada... A proporção dos diferentes tipos de açúcar, a concentração de cada um deles e a quantidade total de néctar são algumas das características que variam de acordo com a espécie de planta [2]. E é em parte graças a essa variação que flores de plantas diferentes tendem a atrair conjuntos mais ou menos distintos de polinizadores.
Flores com néctar rico em sacarose, por exemplo, atraem principalmente abelhas, mariposas, borboletas e aves, enquanto flores com néctar rico em frutose ou glicose atraem outras espécies de abelhas e moscas. A concentração de açúcares (i.e., a quantidade de açúcar presente por unidade de volume de água) determina a viscosidade do néctar e isso também influencia a identidade dos visitantes. Abelhas, por exemplo, preferem néctar mais viscoso, enquanto borboletas e beija-flores preferem néctar mais aquoso. Por sua vez, a quantidade de néctar influencia tanto a identidade como o tamanho dos visitantes. Como regra geral, flores que produzem grandes quantidades de néctar atraem os polinizadores de maior porte.
Além de açúcares, sabemos agora que o néctar contém também uma rica e variada gama de substâncias químicas, como aminoácidos, proteínas, lipídios, antioxidantes, minerais e vitaminas, além de algumas toxinas. Mas ainda sabemos relativamente pouco sobre o papel dessas substâncias e suas implicações na polinização. Os aminoácidos, por exemplo, parecem ser importantes como complemento alimentar para animais que necessitam de uma dieta rica em proteínas, como é o caso de borboletas e moscas. Os antioxidantes podem estar presentes a fim de evitar a oxidação e, conseqüentemente, a degradação de outros componentes importantes do néctar. Por sua vez, alguns tipos de proteínas parecem agir na proteção da flor contra o ataque de fungos.
Mas como explicar a presença de substâncias tóxicas no néctar: afinal, por que adicionar toxinas na composição química de um líquido produzido para funcionar como atrativo? Uma explicação plausível, seria a seguinte: a presença de substâncias tóxicas, como ocorre no néctar das flores da datura (Datura, Solanaceae) e do rododendro (Rhododendron, Ericaceae), é um modo de evitar a ação de pilhadores oportunistas. Isso também ocorre com as flores da catalpa (Catalpa speciosa, Bignoniaceae), cujo néctar é rico em toxinas que inibem a ação de formigas nectarívoras, embora essas mesmas substâncias não façam qualquer mal aos legítimos polinizadores.
Para finalizar, um breve comentário antropocêntrico: a presença de algumas dessas outras substâncias no néctar (além de água e açúcar) é responsável pelas diferenças que nós, seres humanos, percebemos no sabor e na cor do mel.
M. Eiterer & Felipe A.P.L Costa*
(*)Felipe A.P.L Costa é biólogo meiterer@hotmail.com, autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006).
1. Sobre as influências científicas do casal Baker, ver Bock, J. H. & Linhart, Y. B., eds. 1989. Evolutionary ecology of plants. Boulder, Westview Press.
2. Ver Baker, H. G. & Baker, I. 1983. A brief historical review of the chemistry of floral nectar. In: B. Bentley & T. Elias, eds. The biology of nectaries. NY, Columbia University Press.
7 de dez. de 2010
Você sabia que o cheirinho de terra molhada é obra de bactérias?
O dia está quente e, de repente, cai aquela chuva para refrescar. Bastam as primeiras gotas tocarem o solo para sentirmos aquele agradável cheirinho de terra molhada. Um cientista diria: “Huumm, como é bom esse cheirinho de …Bactérias!” é isso aí! O aroma que sentimos vem desses seres microscópicos, que podem ser muito úteis para humanos e até para os…Camelos!
Enquanto bebem a água e saem pingando, os camelos não fazem a idéia, mas dão uma forcinha para as bactérias. É que dessa forma eles espalham os esporos – estruturas produzidas pelas bactérias que vão permitir que elas se reproduzem em outro lugar, algo indispensável para a existência dessa espécie de microorganismo.
Aposto que agora, ao ver um filme com camelos e desertos ou ao passear num jardim molhado e sentir o cheirinho de terra, você se lembrará que existem também bactérias do bem. então, ajude a espalhar essa boa notícia. Afinal, se não fossem esses microorganismos, os camelos poderiam morrer de sede. Já pensou o mundo sem esses curioso animais?
SILVA, Andreza Moura Pinheiro da. Você sabia que cheirinho de terra molhada é obra de bactérias? Revista Ciência Hoje das Crianças, ano 22, nº 202, jun. 2009.
5 de dez. de 2010
Verrugas nas plantas?
Galhas em folha de cambará (Lantana camara). Foto: M. Eiterer |
Galha. Foto: M. Eiterer |