"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

Ciência no Jardim

'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell

Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?

Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?

Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?

Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.

A margarida não é uma só flor

Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?

Plantas que fogem do jardim

Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.

22 de mar. de 2013

Vocês querem bacalhau? Têm certeza?

Desculpe  leitor,  mas hoje não escrevo sobre plantas. Com a  semana santa chegando não posso deixar de pensar no bacalhau e a história de sua exploração pelo homem. Dedico essas linhas para esse peixe que fora tão abudante e hoje está a beira de um colapso.
Bacalhau (Gadus morhua). Foto: Wikipédia
 'Seria o pescado exaurível, e se assim  fosse, alguma coisa  podería ser feita para evitar sua exaustão? (…) Acredito.. que a pesca do bacalhau, do arenque, da sardinha, da cavala e provalmente de todos os grandes pescados marinhos são inexauríveis; isso é, que nada que façamos afetaria seriamente o número de peixes.'
(Thomas Huxley, 1883)
Há pelo mesnos 2 peixes conhecidos pelo nome de bacalhau. O mais nobre deles ( e também o mais caro) é o bacalhau do porto, também conhecido como bacalhau do atlântico ou “atlantic cod”. Seu nome científico é Gadus morhua. O outro é o bacalhau do Pacífico ou gadus do pacífico (Gadus macrocephalus). O bacalhau saithe (Pollachius virens), o ling (Molva molva) e o zarbo (Brosmius brosme) são peixes salgados tipo bacalhau, não propriamente bacalhau. Vamos conhecer a história do Gadus morhua, o bacalhau do porto.

 Distribuição de Gadus morhua. Mapa: Wikipedia
O Gadus morhua  é um peixe que vive nas águas frias do  Atlântico Norte.  Sua distribuição estende-se  do Golfo da Biscaia,  ao Mar Báltico, Mar de Barents, ao redor da Islândia, ao longo do sul da Groenlândia, Terra Nova (Canadá) até Carolina do Norte (E.U.A). O bacalhau prefere temperaturas de 2-8°C, mas podem ser encontrados em temperaturas de até 20°C. A profundidade varia de 1-600 m. São peixes dermensais, isto é, vivem sobre ou perto do fundo do mar. O bacalhau adulto é carnívoro e se alimenta de uma grande variedade de peixes e invertebrados.

O período de reprodução depende da área geográfica. A temperatura da água é um fator importante na reprodução, ovos e alevinos são muito sensíveis ao frio e podem morrer. Uma fêmea de bacalhau pode colocar 500 mil ovos por kg de seu peso. Uma fêmea com 3 anos e pesando 500 g pode colocar 250 mil ovos, com oito anos e pesando 5 kg  2,5 milhões de ovos, o recorde foi de 9 milhões de ovos produzido por uma fêmea com 34 kg. Os ovos são lançados na água para serem fecundados. Os ovos e alevinos não recebem cuidados dos pais. Os ovos são transparentes e medem cerca de 1,5 mm de diâmetro. Eles flutuam na água por 10-20 dias. Depois que os ovos eclodem os alevinos alimentam-se do saco vitelínico por 1-2 semanas. A fase de alevino dura  3 meses  e são pelágicos, isto é, vivem na superfície. Um local perigoso para jovens peixes. A maioria irá morrer nos 3 primeiros meses. De cada 1 milhão de ovos um chegará a vida adulta.  O bacalhau pode viver até 25 anos e pesar 90 kg. Com 6 ou 7 anos uma fêmea estará pronta para a primeira desova.
 
Comemos bacalhau desde a idade da Pedra (3.000 a.C.). Contudo, o bacalhau só veio a se torna importante na economia na era Viking (800 d.C.), nesse período  os noruegueses já secavam  o peixe para suas longas viagens e os  reis noruegueses cobravam impostos pelo comércio do bacalhau.  Quando o navegador italiano Giovanni Caboto ( 1450-1499) chegou à costa da América do Norte, em 1497,   ficou maravilhado com a quantidade de bacalhau. Os estoques de bacalhau de Terra Nova foram pescados por franceses, ingleses, portugueses e espanhóis. Por causa da sua fartura o bacalhau foi um peixe barato.  Até o início dos anos 60 os desembarques de bacalhau em todo o Atlântico ocilaram entre 2,5-3 milhões de toneladas, com um pico em 69 de 4 milhões, entretanto em 75 foram 1,8 milhões, em 1992  0,8 milhões e em 2000 a pesca do bacalhau estava abaixo de 0,8 milhões de toneladas.

Foi no Canadá que surgiram os primeiros sinais do esgotamento dos estoques do bacalhau. Até 1960  foram pescados cerca de 300 mil toneladas de bacalhau. A pesca tornou-se mais sofisticada com uso de sonares e arrastões. Em 1968 foram pescados 800 mil toneladas de bacalhau nessa região. Depois disso houve um declínio. Em 1991 só foi alcançada 70% da cota fixada em 185 mil toneladas. No ano seguinte, as zonas de pesca do bacalhau foram fechadas, milhares de trabalhadores ligados a pesca do bacalhau ficaram sem trabalho.  Em 1994, os estoque reduziram ainda mais. Em 2006 a pesca do bacalhau foi reaberta e limitada a 2.700 toneladas. Mas, o problema se estende além da costa canadense, os estoques de bacalhau (Gadus morhua) estão a beira do colapso. O Bacalhau aparece como espécie “vulnerável” na  lista vermelha  da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais). Os únicos estoques com uma saúde relativa são os da Islândia e do Mar de Barents. As populações de bacalhau (Gadus morhua) não se recuperaram e talvez nunca mais venha a se recuperar. Como isso teria acontecido?
'[…] Os países  que exploram as zonas de pesca nas latitudes norte são nações ricas, industrializadas, com séculos de experiência em pesca e com excelentes cientistas dedicados ao estudo dos recursos pesqueiros. Além disso, a perda de recursos pesqueiros não é um evento recente na economia ao redor do Atlântico e do Pacifíco norte. Temos 200 anos de experiência em empurrar os estoques de peixes até a beira (ou além) da extinção.' (Stuart Pimm, 2005)
O que podemos fazer?  Eu prefiro não comer peixe. Mas, o leitor pode pressionar as peixarias e supermercados para a implementação de políticas de compra e venda de pescado sustentável. Solicite aos supermecados informações sobre os estoques e métodos de pesca dos peixes que estão vendendo.  Não devemos incentivar a pesca de peixes de estoques ameaçados ou com têcnicas destrutivas. Na hora de escolher o seu peixe da semana santa pense:  Vocês querem mesmo comer o bacalhau?  
M. Eiterer
Veja mais imagens do bacalhau
Ouça o som do bacalhau

Fontes:
Atlantic cod  (Wikipédia)
Codtrace - Cod biology
Canadin Atlantic Fisheries Collapse (Greenpeace)
CUDMORE, Wynn W. The Decline of Atlantic Cod – A Case Study. 2009
Fishbase
IUCN Red List
Marinebio
PIMM, Stuart. 2005. Terras da Terra: o que sabemos sobre o nosso planeta. Planta: Londrina.
Será que ainda podemos comer bacalhau? (Greenpeace)
Sob ameaça bacalhaus amadurecem mais cedo (Jornal da Ciência)
The history of the northern cod fishery


11 de mar. de 2013

Plantas que fogem do jardim

Nós usamos muitas espécies de plantas exóticas em nossos jardins. O que é uma planta exótica? É uma planta não nativa, que não ocorre naquele lugar naturalmente. Nós cultivamos muitas plantas que ocorrem naturalmente em outros países como as azaleias, hortênsias,  rosas etc.  Nem todas elas tem a capacidade de fugir do cultivo do jardim. Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas  de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameaça a biodiversidade. Espécie exóticas  invasoras são  a 2ª maior causa de extinção de espécies, perdendo apenas para a perda de habitat.

Plantas que escapam do cultivo e invadem áreas naturais são chamadas invasoras. Uma espécie exótica invasora é aquela que fugiu de sua distribuição natural no presente ou no passado e ameaça a biodiversidade nessa nova área, formando grandes populações. Espécies exóticas invasoras são hábeis para reproduzir rapidamente e se espalhar com muito sucesso em sua nova área e dominar os ambientes invadidos exercendo pressão sobre as espécies nativas. Por isso, uma espécie invasora é considerada uma grande ameaça a biodiversidade.
 Jaca ( Artocarpus heterophyllus), a ave é um pica-pau-branco (Melanerpes candidus): Foto por: M. Eiterer

Vamos ver alguns exemplos de plantas invasoras. A jaqueira (Artocarpus heterophyllus), árvore originária do sudeste asiático que invade áreas de floresta. Ela tem sido um grande problema em áreas de Mata Atlântica. O beijo (Impatiens walleriana), nativo do continente Africano. Esta planta costuma colonizar ambientes mais abertos e antropizados, como terrenos baldios, jardins e beiras de estrada. Mas, ela pode avançar mata adentro, sendo um problema em diversas unidades de conservação do Brasil, pois invade e compete com as espécies nativas do sub-bosque. O beijo-do-brejo (Hedychium coronarium), nativo da Ásia, invasora de áreas úmidas e sub-bosques da floresta atlântica.O pinheiro-americano (Pinus elliot), originária do Estados Unidos da América, invade ecossistemas abertos como campos, cerrados e restingas, assim como áreas degradadas, pastagens e áreas agrícolas. Pode invadir clareiras em ambientes florestais ou áreas florestais em fase secessional inicial. O pinheiro-americano aumenta a acidez do solo e o regime hídrico em áreas abertas, onde substitui vegetação de pequeno porte. 

Beijo-do-brejo (Hedychium coronarium), visitado por uma ave nativa do Brasil, o cambacica (Coereba flaveola). foto por M. Eiterer

Espécies invasoras causam muitos problemas como a interferência no desenvolvimento das espécies nativas, podendo ocasionar extinções locais ou regionais, descaracterizam e homogenizam ecossistemas, alteram ciclos ecológicos, rebaixam lençóis freáticos. O impacto econômico por espécies invasoras é enorme, na ordem de bilhões de dólares por ano.
Em 2006 foi inciada as discussões sobre as espécies invasoras na 8ª reunião da Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB). Neste mesmo ano foi instituída no Brasil pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), a Câmara Técnica permanente sobre Espécies Exóticas Invasoras com a finalidade de integrar estratégias contra os impactos negativos dessas espécies.

E, o que nós podemos fazer? Procure informações sobre as plantas que cultiva ou deseja cultivar.  Evite o cultivo de plantas exóticas, principalmente aquelas com características invasoras. Cultive plantas nativas. Valorize a flora nativa da sua região.
Pense nisso!

Fonte:
Instituto Hórus