"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

21 de jul. de 2011

Teia de raízes

O que habitualmente admiramos em uma planta, é apenas a ponta de um grande iceberg. As plantas não têm apenas uma raiz, mas sim um intrincado sistema de raízes. 

De um modo geral, o raio ocupado pelas raízes de uma planta é de quatro a sete vezes maior que o raio ocupado pela sua parte aérea. Se pudéssemos enxergar através do solo, o que veríamos seria uma gigantesca teia de raízes sob nossos pés, abastecendo de água e nutrientes a parte do corpo da planta que admiramos na superfície.

As raízes exercem funções de absorção, condução de água e sais minerais, reserva e fixação da planta. A primeira raiz, ou raiz primária, de uma planta tem origem ainda na fase embrionária. 

A raiz primária pode continuar crescendo e se ramificar, formando um sistema radicular pivotante, profundo (1) ou superficial. Contudo, em algumas plantas, como nas gramíneas, a raiz primária tem vida curta e logo é substituída por inúmeras raízes adventícias. As raízes deste último tipo têm origem no caule e formam um sistema radicular fasciculado (2), um emaranhado de raízes que ficam na superfície do solo. 

Esses são os sistemas radiculares mais comuns entre as plantas (excluindo samambaias e espécies relacionadas). Algumas raízes, ou parte delas, tornam-se altamente especializadas em determinada função como armazenamento (cenoura), escoramento (Pandanus), fixação (filodendros) etc.

As raízes crescem em extensão a partir do ápice, pois é lá que estão concentradas as células-tronco(3) da raiz. É por isso que devemos ter tanto cuidado para não quebrar a ponta das raizes. Para proteger essa região delicada, ao mesmo tempo em que a raiz penetrando no solo, o ápice das raizes é coberta por um envoltório (4), que também controla a direção do crescimento (descendente ou em sentido contrário ao da luz). 

Como nas árvores, além do crescimento em extensão, as raízes também crescem em diâmetro (5). Alguns dos fatores que influenciam o crescimento das raízes, tanto em diâmetro como em profundidade, são a umidade, a temperatura e a composição do solo. As raízes podem ser danificadas pelo frio, seca, parasitas, patogênos, entre outros. Danos na parte aérea podem afetar as raízes e vice-versa. Quando se arranca uma planta, grande parte dos pêlos absorventes das raizes, responsáveis pela absorção de água e sais minerais, são perdidos.

No planejamento de um jardim, devemos tentar prever o crescimento das raízes, evitando assim problemas futuros com áreas edificadas, como piscinas e muros, além de estruturas subterrâneas, como a rede de água, luz e esgoto. O local escolhido para o plantio deve ter espaço suficiente para que a água e os nutrientes retornem ao solo constantemente e em quantidade suficiente para a manutenção da saúde da planta. É por isso que devemos evitar a impermeabilização do entorno de árvores, uma prática, infelizmente, ainda comum nas calçadas de muitas cidades. 

Lembre-se: as plantas não são responsáveis pelos estragos causados em calçadas, muros e outras edificações humanas, mas sim quem plantou mudas sem oferecer a elas as condições mínimas de desenvolvimento.


Notas:
(1) A maior raiz que se tem registro media 53 metros de profundidade.

(2) Fasciculado (do latim fasciculatus): que surgem de um mesmo local.

(3) Células com capacidade indefinida de divisão celular. Em botânica é mais comum o uso do termo células iniciais.

(4) O nome técnico para designar esse envoltório é coifa.

(5) Tecidos especiais, chamados de meristemas laterais, são os responsáveis pelo crescimento secundário das raízes.


M. Eiterer





M.Eiterer é bióloga/botânica. Adora jardins e plantas desde crianças, já plantou tantas árvores que perdeu a conta.Escreve também para o blog Aves de Viçosa. Leia o perfil completo.

0 comentários:

Postar um comentário