"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

Ciência no Jardim

'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell

Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?

Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?

Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?

Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.

A margarida não é uma só flor

Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?

Plantas que fogem do jardim

Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.

21 de abr. de 2014

O jacu na horta

Tenho um irmão que saiu da cidade e foi morar no campo. Agora ele está descobrindo a alegria de plantar. Vivendo o prazer de todos os dias acordar e ver o verde por toda a parte. Isso é maravilhoso. Mas, a proximidade com a vida selvagem traz outras problemas que uma pessoa que vive ou viveu na cidade não está acostumado. O meu irmão por exemplo está vendo sua horta ser atacada por populações de jacus. 

Penelope supercilares. Foto: M. Eiterer

 O jacu

O jacu é uma ave da família Cracidae (Galliformes). Os cracídeos são aves neotropicais de grande porte conhecidas por mutuns, jacus, jacutingas, aracuãs, ao todo são 50 espécies e 10 gêneros. Os jacus pertencem ao gênero Penelope, que reúne 15 espécies. Os cracídeos formam um dos grupos de aves neotropicais mais ameaçado de extinção. O desmatamento e a caça indiscriminada reduziram drasticamente as populações de cracídeos. Mais de um terço das suas espécies estão em perigo de extinção. O jacus tem hábito arbóricola, ocasionalmente vindo ao chão. Podem ser distinguido das jacutingas pela barbela vermelha, que na jacutinga é azul. Meu irmão vive na região da zona da mata mineira, onde ocorrem Penelope obscura e Penelope superciliares, as duas espécies estão na categoria pouco preocupante pela International Union for Conservation of Nature (IUCN, ver aqui Penelope obscura e Penelope supercilares). No entanto, as análise locais mostram resultados diferentes. Em Viçosa, por exemplo, Penelope supercilares está criticamente em perigo e Penolope obscura está na categoria vulnerável. 

Os jacus alimentam-se  principalmente de frutos, são frugívoros. Embora possam também consumir folhas, flores brotos e insetos. O gênero Penelope é um importante dispersor de sementes, pois os frutos são digeridos rapidamente e as sementes são ingeridas e defecadas intactas e viáveis. Não conhecemos com detalhes a dieta das 15 espécies de Penelope, mas um estudo mostrou que 44 espécies de plantas fazem parte da dieta do jacupemba (P. superciliares). Alguns exemplos de plantas usadas na dieta do jacumpeba são: palmeira juçara (Euterpes edulis), guabiroba (Camponesia xanthocarpa)  peroba-branca (Chrysophyllum gonocarpum), canela-preta (Nectandra megapotamica), canela-amarela (Ocotea dyospyrifolia) canjerana ( Cabralea canjerana). Só para citar algumas.

 Cultivo protegido

Cultivo protegido. É possível criar estruturas menores.Foto:Deyvid Setti e Eloy Olindo Setti.


Para ter uma convivência pacífica com os jacus é preciso proteger a horta, no caso do meu irmão que tem pequenos canteiros, ele pode fazer o cultivo protegido. O cultivo protegido tem muitas vantagens reduz o ataque de pragas, de doenças e propicia economia de insumos, mantém a temperatura e reduz a perda de água. Contudo, para agricultores com grandes áreas o investimento é muito alto, inviabilizando sua instalação. Por isso os estudo das populações de jacus são importantes para entendermos melhor seu  comportamento e criar técnicas de manejo adequadas e mais baratas para a convivência pacífica entre agricultores e jacus. 

O café de jacu

Mas já existem aqueles que tiram proveito dessa convivência para criar produtos diferenciados como é o caso do 'Jacu Bird Coffee'. O proprietário deliberadamente deixa sua plantação de café ser  'atacada' por jacus que comem os frutos. Depois as fezes com o grão são recolhidas, secas e tratadas, produzindo um café de alta qualidade com menor acidez.  Os preços são altos e o café é vendido por quilo e não por saca.

Como fazer o  cultivo protegido

E como fazer o cultivo protegido? Sugiro a construção de um modelo menor do que os usados para grandes produções. Fica bem mais barato e é mais fácil de construir. 

Primeiro é preciso colocar uma armação de vergalhão de construção em forma de arco sobre os canteiros, enterrando as pontas no canteiro. A quantidade de arcos depende do comprimento do canteiro, mas a proximidade dos arcos deve ser adequada para suportar a tela ou o plástico. A altura depende da planta, para a couve sugiro um arco maior do que para o alface. Depois de colocado o arco coloca-se a tela ou o plástico próprio para estufa e de boa qualidade. Coloque o plástico de forma que você possa removê-lo para limpar, plantar e colher, além de arejar. Simples e fácil de fazer.

Fonte:
BirdLife International 2012. Penelope obscura. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. disponível em <www.iucnredlist.org>. Acesso em 21 de abril de 2014.
BirdLife International 2012. Penelope superciliaris. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. Disponível em <www.iucnredlist.org>. Acesso em 21 de abril de 2014.
RIBON, Romulo; SIMON, José Eduardo; MATTOS, Geraldo Theodoro de. 2003. Bird extinctions in Atlantic forest fragments of the Viçosa region, Southeastern Brazil. Conservation Biology 17: 1827-1839.
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.