Ciência no Jardim
'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell
Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?
Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?
Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?
Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.
A margarida não é uma só flor
Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?
Plantas que fogem do jardim
Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.
14 de nov. de 2011
O que nos tornou humanos?
20 de out. de 2011
As várias formas de apresentar o pólen ao polinizador
Sair da antera de uma flor e chegar ao estigma de outra não é uma viagem sem riscos, mesmo para esse pacote resistente e durável, que transporta o gameta masculino, chamado grão de pólen. Essa viagem - a polinização - pode durar alguns segundos ou mesmo dias, e cada espécie produz seus grãos de pólens adaptados a essas variações. Para iniciar sua viagem e alcançar seu objetivo, o pólen precisa contar com a ação de algum agente transportador de pólen - i.e., um dispersor.
O vento e a água funcionam como agentes dispersores de pólen para muitas espécies de plantas. O mais comum, no entanto, é que o agente dispersor seja algum animal, como abelhas, besouros, borboletas, morcegos ou beija-flores. Para que esses animais dispersores - também chamados de vetores - cheguem até o pólen, este precisa estar situado em alguma região visível ou facilmente detectável. A principal estrutura da flor que apresenta o pólen ao seu dispersor é a própria antera. Em muitas espécies, a antera se abre longitudinalmente, expondo o pólen aos visitantes. Em outros casos, o animal retira os grãos de pólen através de pequenos orifícios nas anteras. Esse é o caso, por exemplo, de abelhas que vibram agarradas sobre as anteras e, desse modo, têm acesso a pequenas quantidades de pólen. Nesses casos, como o apresentador é a própria antera, dizemos que a apresentação de pólen é primária.
Em muitas outras espécies de plantas, no entanto, nas quais a apresentação de pólen é um processo mais especializado, outras estruturas assumem o papel de apresentador. O pólen continua a ser produzido nas anteras, sendo posteriormente transferido para outra estrutura floral, como filete, estilete ou pétalas, ainda na fase de botão. Essas estruturas possuem adaptações especilizadas para reter os grãos de pólen, como a epiderme recoberta de papilas ou pêlos. A antera mantém sua função primária de produzir o pólen, mas deixa de exercer a função de apresentá-lo. Esse tipo de apresentação é conhecido como apresentação secundária de pólen. Um exemplo familiar em jardins pode ser visto na Giesta (Spartium junceum, Leguminosae: Papilionoideae), na qual o pólen é depositado sobre os filetes da antera, que ficam assim armados como pequenas catapultas. Quando o dispersor toca na flor, o estame desarma e o pólen é lançado sobre ele. Outras plantas de jardim que exibem uma apresentação secundária de pólen são a Cana-da-índia (Canna denudata, C. x generalis, C. limbata; Cannaceae) e as Ixoras (Ixora chinensis, I. coccinea, I. macrothyrsa; Rubiaceae).
Os estudiosos ainda divergem entre si no que diz respeito ao número de famílias botânicas que abrigam espécies com apresentação secundária, mas esse número seguramente está próximo de trinta. O pólen é um investimento caro e de grande valor para a planta, já que armazena o gameta masculino. Por isso mesmo, as principais hipóteses para explicar as funções e a evolução da apresentação secundária de pólen argumentam que tal comportamento poderia ser um modo de minimizar os custos da produção, pois tornaria a polinização um processo mais eficiente e exato; a planta também economizaria pólen, pois na apresentação secundária apenas pequenas quantidades de pólen são apresentadas de cada vez, aumentando assim as chances de que mais de um dispersor transporte seu pólen. Além disso, a apresentação secundária evita que o órgão masculino interfira no funcionamento do feminino e vice-versa.
Aparentemente perfeita, a arquitetura da flor tem lá os seus problemas. Não é à toa, portanto, que ao longo da história evolutiva das angiospermas, as flores têm incorporado mecanismos cada vez mais sofisticados no sentido, ao que parece, de contornar ao menos alguns desses problemas.
M. Eiterer
4 de out. de 2011
O perfume das flores
Já as flores produzem perfume para atrair polinizadores. O perfume das flores são produzidos em osmóforos (osmo=odor foros=produz; área do tecido floral especializada na emissão de cheiro) geralmente presentes nas pétalas, mas estruturas como os estames, também podem produzir perfume. O perfume só é liberado em determinadas condições. Repelentes e perfumes florais podem ter uma origem evolutiva comum, pois as estruturas florais são homólogas com folhas.
21 de ago. de 2011
Toninho e a jararaca
A casa do Toninho é uma casa antiga, com porão e piso de madeira. Para não dar cheiro de mofo na casa ele cobre o piso do porão com folhas de eucalipto. Mas, periodicamente ele tem que trocar as folhas que perdem o cheiro. Numa dessas trocas ele desceu até o porão. E, vá saber lá porque, nesse dia ele não estava com seu velho par de botas. Ele foi puxando as folhas e juntando num monte. Uma jararaca dormia no porão no meio das folhas. Como o porão é escuro o Toninho não viu a jararaca e puxou a bichona junto com as folhas. A jararaca despertou e percebendo o perigo armou e deu o bote na perna desprotegida de Toninho. Ele viu a jaracaca, mas não teve tempo de se safar. A picada já estava dada. Ele precisava agir rápido. Pegou uma ferramenta que estava à mão e acertou a jararaca. Pegou a bicha e levou para fora. Correu até a casa. Chamou a esposa e avisou do acontecido. Precisa ir urgente ao hospital. Chamaram um dos filhos que foi dirigindo. Ele já sentia as dores do efeito do veneno na perna. Rapidamente chegaram ao hospital ele foi atendido e medicado. Por muitos meses ele ficou sentindo a perna, mas pouco tempo depois lá estava ele correndo prá lá e prá cá com seu fusquinha.
No final da nossa conversa perguntei ao Toninho: -Quantas serpentes o senhor já viu na vida? -Muitas. Quando era jovem era mais comum encontrar serpentes. Hoje nem tanto. -E, quantas vezes o senhor foi picado? -Só dessa vez. -E, porque o senhor acha que foi picado? -Estava descalço num lugar onde cobras podem se esconder. Fui incalto.
M. Eiterer
21 de jul. de 2011
Teia de raízes
De um modo geral, o raio ocupado pelas raízes de uma planta é de quatro a sete vezes maior que o raio ocupado pela sua parte aérea. Se pudéssemos enxergar através do solo, o que veríamos seria uma gigantesca teia de raízes sob nossos pés, abastecendo de água e nutrientes a parte do corpo da planta que admiramos na superfície.
As raízes exercem funções de absorção, condução de água e sais minerais, reserva e fixação da planta. A primeira raiz, ou raiz primária, de uma planta tem origem ainda na fase embrionária.
A raiz primária pode continuar crescendo e se ramificar, formando um sistema radicular pivotante, profundo (1) ou superficial. Contudo, em algumas plantas, como nas gramíneas, a raiz primária tem vida curta e logo é substituída por inúmeras raízes adventícias. As raízes deste último tipo têm origem no caule e formam um sistema radicular fasciculado (2), um emaranhado de raízes que ficam na superfície do solo.
Esses são os sistemas radiculares mais comuns entre as plantas (excluindo samambaias e espécies relacionadas). Algumas raízes, ou parte delas, tornam-se altamente especializadas em determinada função como armazenamento (cenoura), escoramento (Pandanus), fixação (filodendros) etc.
As raízes crescem em extensão a partir do ápice, pois é lá que estão concentradas as células-tronco(3) da raiz. É por isso que devemos ter tanto cuidado para não quebrar a ponta das raizes. Para proteger essa região delicada, ao mesmo tempo em que a raiz penetrando no solo, o ápice das raizes é coberta por um envoltório (4), que também controla a direção do crescimento (descendente ou em sentido contrário ao da luz).
Como nas árvores, além do crescimento em extensão, as raízes também crescem em diâmetro (5). Alguns dos fatores que influenciam o crescimento das raízes, tanto em diâmetro como em profundidade, são a umidade, a temperatura e a composição do solo. As raízes podem ser danificadas pelo frio, seca, parasitas, patogênos, entre outros. Danos na parte aérea podem afetar as raízes e vice-versa. Quando se arranca uma planta, grande parte dos pêlos absorventes das raizes, responsáveis pela absorção de água e sais minerais, são perdidos.
No planejamento de um jardim, devemos tentar prever o crescimento das raízes, evitando assim problemas futuros com áreas edificadas, como piscinas e muros, além de estruturas subterrâneas, como a rede de água, luz e esgoto. O local escolhido para o plantio deve ter espaço suficiente para que a água e os nutrientes retornem ao solo constantemente e em quantidade suficiente para a manutenção da saúde da planta. É por isso que devemos evitar a impermeabilização do entorno de árvores, uma prática, infelizmente, ainda comum nas calçadas de muitas cidades.
Lembre-se: as plantas não são responsáveis pelos estragos causados em calçadas, muros e outras edificações humanas, mas sim quem plantou mudas sem oferecer a elas as condições mínimas de desenvolvimento.
Notas:
(1) A maior raiz que se tem registro media 53 metros de profundidade.
(2) Fasciculado (do latim fasciculatus): que surgem de um mesmo local.
(3) Células com capacidade indefinida de divisão celular. Em botânica é mais comum o uso do termo células iniciais.
(4) O nome técnico para designar esse envoltório é coifa.
(5) Tecidos especiais, chamados de meristemas laterais, são os responsáveis pelo crescimento secundário das raízes.
M. Eiterer
5 de jul. de 2011
Néctar colorido
Néctar é comumente caracterizado como sendo um líquido incolor. Contudo, a existência de néctar colorido já era conhecida desde a antiguidade, citado por Homero, em Ilíada (Livro XIXX, versos 37-39). Mas, ele só veio a ser descrito pela primeira vez pela ciência em 1785, pelo sueco Andreas Hesselius (1677-1733), na descrição de uma espécie de Aloe. Outras espécies foram descritas desde então, algumas com interpretações equivocadas ou publicadas sem o devido enfoque, ou em revistas obscuras.
Assim, 14 anos depois da descrição de Jackson, de Nesocodon mauritianus, Jens M. Olesen e outros, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, estudavam populações dessa espécie, nas Ilhas Maurício e cultivaram a espécie na Universidade de Aarhus. Foi então que descobriram que a cor do néctar de Nesocodon mauritianus era vermelha e decidiram investigá-lo. Nessa época os pesquisadores acreditavam que essa era a única espécie com néctar colorido no mundo e que tal fato só ocorria nas Ilhas Maurício. Mas, Dennis M. Hansen, da Universidade de Zurique, na Suíça e colaboradores revisaram o assunto e descobriram que outras espécies de plantas em outras partes do planeta produziam néctar colorido. No Brasil, é conhecida apenas uma espécie que secreta néctar de cor azul, Schwartzia brasiliensis (=Noranteia brasiliensis, Marcgraviaceae).
Graças ao trabalho unificador de Hansen, sabemos hoje que néctar colorido surgiu independentemente e repetidamente em diferentes regiões geográficas, tropicais e subtropicais, em 68 taxas, 20 gêneros e 15 famílias de 13 ordens de angiospermas. Para os pesquisadores da Universidade de Zurique, esse padrão de convergência sugere a possibilidade de uma pressão seletiva comum, como a necessidade de um sinal honesto para os visitantes, permitindo que eles avaliem a quantidade de néctar na flor, antes de visitá-la e dessa forma ajustar seu comportamento. Os polinizadores observados em algumas dessas espécies são vertebrados. Aves, em Aloe e Schwartzia brasiliensis e, lagartos (Phelsuma), em Trochetia boutoniana (néctar vermelho) e, Trochetia blackburniana (néctar amarelo).
Além de transparente, o néctar pode ter as cores: amarelo, azul, laranja, marrom, preto, vermelho e verde devido a presença de compostos secundários na sua composição química como: aurone em Nescodon mauritianus e antocianina Schwartzia brasiliensis. Compostos secundários podem mudar não só aparência, mas também o gosto e digestibilidade do néctar. Contudo, a função do néctar colorido nas outras espécies ainda não está esclarecida. Novas pesquisas devem ser conduzidas com outras espécies, para podermos entender a função e a evolução do néctar colorido.
M. Eiterer
10 de jun. de 2011
O aquecimento global e as plantas
A temperatura da Terra está subindo e a emissão de gases-estufa, provenientes de atividades humanas (como a queima de combustíveis fósseis e as queimadas), é a principal dessa elevação. Segundo cálculos dos climatologistas, a temperatura média da atmosfera deve subir entre dois e seis graus centigrados até o fim do século 21. Pode parecer pouco, mas já seria o suficiente para provocar conseqüências desastrosas em escala planetária.
Um dos efeitos mais diretos do aquecimento global seria a elevação no nível do mar e a inundação de cidades e comunidades litorâneas. Mas muitos outros efeitos são esperados, como o aumento na intensidade de certos fenômenos naturais, como furacões, inundações e secas, e o aumento na incidência de estresses por calor e doenças respiratórias em pessoas que vivem em áreas urbanas.
O aquecimento global também teria um impacto grande na vida das plantas. Árvores de grande porte seriam particularmente vulneráveis às mudanças climáticas. Isso porque muitas crescem durante um período prolongado de tempo antes de começarem a se reproduzir. Além disso, muitas espécies têm uma capacidade limitada de dispersão, comumente espalhando as sementes apenas a curtas distâncias. No fim das contas, as mudanças climáticas podem ser rápidas demais para que espécies com um tempo de geração prolongado consigam evoluir adaptações.
De resto, a fuga para novos hábitats pode ser prejudicada pela presença de barreiras naturais, como montanhas, rios, oceanos, cidades etc. Nesse sentido, árvores de grande porte que vivem em ilhas enfrentarão uma situação duplamente preocupante: o tempo de geração prolongado e as barreiras à dispersão. Nessas circunstâncias, muitas populações deverão desaparecer. Mesmo a estratégia de criar unidades de conservação para proteger populações (vegetais e animais) ameaçadas de extinção pode não ser suficiente para enfrentarmos com sucesso todas as ameaças que um aquecimento global representaria.
Além de desafios novos que encontraremos em futuro próximo, alguns estudos têm mostrado que certas plantas já estão respondendo (em termos evolutivos) às mudanças climáticas. Na Inglaterra, por exemplo, uma espécie de gerânio está antecipando o início da floração em cinco semanas para cada elevação de um grau centígrado na temperatura média anual. Na América do Norte, observações com o indigo (Syringa) e a madressilva (Lonicera) mostram que essas plantas estão florescendo sete dias mais cedo do que o faziam em 1950, quando as observações começaram. Plantas européias estão agora florescendo seis dias mais cedo do que fizeram em 1960 e a estação de crescimento delas tem se prolongado por mais uma ou duas semanas.
Como se não bastasse tudo isso, vale lembrar que muitas plantas dependem da presença de visitantes especializados, sem os quais a polinização das flores simplesmente não ocorre. Com a antecipação do florescimento, a sincronia entre plantas e polinizadores pode ser quebrada. Sem o polinizador certo na época apropriada, os óvulos deixarão de ser fertilizados e as sementes não serão mais formadas. Algo semelhante pode ocorrer entre a planta e os animais que fazem a dispersão de suas sementes.
Para atacar esses problemas de frente, teremos de adotar medidas que reduzam de modo efetivo o volume de gases-estufas que estão sendo despejados anualmente. Caso contrário, o clima continuará mudando depressa demais, ameaçando a sobrevivência de espécies vegetais e animais. Além, claro, de nossa própria espécie.
M. Eiterer
5 de abr. de 2011
Marcando plantas
Marcando partes de uma planta
M. Eiterer
Se você tiver quaisquer comentários, perguntas ou sugestões sobre qualquer coisa relacionado com este texto, deixe-me um comentário, ou apenas um olá.
3 de abr. de 2011
A casa da cascata
Fonte da foto: Wikipédia |
M. Eiterer
16 de mar. de 2011
A revolução das plantas secas
Amostras de material botânico têm sido colecionadas por naturalistas e biólogos há centenas de anos. Coleções de plantas secas - usadas, por exemplo, para documentar a descrição de espécies novas - são chamadas de herbários. A técnica empregada para preparar essas amostras recebe o nome de herborização e é tão antiga quanto simples: podemos secar amostras de material botânico prensando-as entre folhas de papel - jornais velhos, por exemplo.
A herborização foi primeiramente utilizada por ilustradores botânicos, preocupados em preservar as características naturais das plantas que retratavam. Com o barateamento do papel na Europa, após o surgimento das primeiras fábricas, ainda no século XII, o material tornou-se mais acessível, o que facilitou a difusão da herborização e o desenvolvimento dos herbários.
Luca Ghini (1490-1556), professor de botânica da Universidade de Bologna, na Itália, é considerado o primeiro botânico a usar técnicas de herborização. Seu herbário pessoal data de 1520. Ghini difundiu a técnica entre colegas, além de incentivar o intercâmbio de plantas herborizadas.
Os herbários modernos são verdadeiros repositórios de informação, armazenando coleções de importância local, nacional ou internacional, dependendo da abrangência do material colecionado. Suas funções incluem identificação, pesquisa e educação. Consultando coleções de herbários podemos ter uma idéia da distribuição geográfica e do comportamento (época de floração) das espécies. Mais recentemente, o material herborizado também tem sido usado em estudos moleculares (contagem de cromossomos, análise de DNA, extração de substâncias químicas etc.).
Todo material herborizado é registrado e recebe uma etiqueta com informações padronizadas, tais como: identificação da espécie, local e data de coleta e nome do coletor. Vale notar que nem sempre o coletor é também o responsável pela identificação; ao contrário, o mais comum é que a identificação específica seja feita por um especialista no grupo, anos após o material ter sido depositado no herbário.
Existem hoje cerca de 3,3 mil herbários em todo o mundo. Há um catálogo mundial de herbários, chamado Index Herbariorum, no qual todos eles devem estar devidamente registrados. O maior herbário do mundo está no Musèum National d`Histoire Naturelle, em Paris; foi fundado em 1635 e abriga hoje cerca de 7,5 milhões de exemplares. Para se ter uma idéia, basta dizer que esse total equivale à soma do acervo de todos os herbários brasileiros. O maior herbário brasileiro, que é também o mais antigo, está no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Foi criado por Ludwig Riedel, em 1831, e conta hoje com 500 mil exemplares.
Alguns dos mais importantes herbários do mundo estão sendo informatizados, permitindo assim que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, tenha acesso aos respectivos acervos via Internet. Esse é o caso, por exemplo, do New York Botanical Garden e do Neotropical Herbarium Specimens, ambos nos Estados Unidos; experimente: Virtual Herbarium.
M. Eiterer
12 de mar. de 2011
O que é um cultivar?
Cultivar é um termo relativamente moderno, derivado da expressão "variedade cultivada", que foi cunhado pelo botânico americano Liberty Hyde Bailey (1858-1954).
Podemos definir cultivar como um conjunto de plantas cultivadas, claramente reconhecidas pela presença de um ou mais caracteres (morfológico, fisiológico, citológico etc.) distintivos hereditários - i.e., caracteres que são transmitidos aos descendentes. O termo não deve ser confundido com "variedade botânica", expressão utilizada para caracterizar uma população natural morfologicamente distinta e de ocorrência geográfica restrita.
Vejamos um exemplo:
Um horticultor cultivando a bromélia Aechmea fasciata descobriu indivíduos com folhas de uma coloração diferente. Ele conseguiu reproduzir a planta e seus descendentes sucessivas vezes, via sementes e mudas, e a característica distintiva permaneceu em evidência. Nesse caso, podemos afirmar que entre os indivíduos de Aechmea fasciata cultivados pelo horticultor surgiu uma nova variedade, reconhecida pela coloração distintiva de suas folhas. Esse novo cultivar deve ser formalmente nomeado e registrado, inclusive para fins de proteção e comercialização.
Esse processo de nomeação e publicação de cultivares é regulamentado por um código próprio, o Código Internacional de Nomenclatura para Plantas Cultivadas. Só para as plantas do gênero Aechmea, citado no exemplo acima, existem perto de 400 cultivares registrados e outros continuam sendo registrados a cada ano, de acordo com o Florida Council of Bromeliads Societies.
Para a nomeação de um cultivar, podemos usar uma ou mais palavras vernaculares, em caracteres romanos (nunca em itálico), sempre com a primeira letra em maiúscula e entre aspas simples.
Exemplo: Aechmea fasciata ‘Silver Queen’.
Observe a diferença na escrita do nome da espécie e do cultivar. Alternativamente, pode-se usar a abreviação da palavra cultivar (cv.), dispensando com isso o uso das aspas simples. Assim, teríamos: Aechmea fasciata cv. Silver Queen. O nome de um cultivar pode ser usado após o nome da espécie, como visto acima, ou apenas após o nome genérico, como em Aechmea ‘Silver Queen’.
No Brasil, há um sistema nacional de registro de cultivares de sementes e mudas, notadamente para fins de comercialização, o chamado Registro Nacional de Cultivares, realizado pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, repartição vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
M. Eiterer
9 de mar. de 2011
Vamos deixar o mato crescer
Não há porque duvidar que essas coisas incomodam ou de fato atormentam a vida dos moradores. Isso não significa dizer, no entanto, que as providências solicitadas – ‘cortar o mato’ ou ‘canalizar o córrego’ – sejam soluções efetivas. Talvez fosse o caso de perguntar antes: afinal, qual é a origem desses problemas?
Muitas cidades são a versão contemporânea de aglomerados humanos que surgiram e prosperaram às margens de um corpo d’água, na maioria das vezes um rio.
Além de atender necessidades humanas óbvias (fontes de água, por exemplo), morar nas proximidades de um rio já foi tido como sinal de fartura e prosperidade. Hoje em dia, no entanto, muitas cidades brasileiras têm vergonha de seus rios, preferindo escondê-los.
A razão para isso é quase sempre a mesma: transformamos os rios em escoadouros de dejetos, restos e lixo em geral, convertendo-os em esgotos a céu aberto.
Foi assim no rio Tietê, em São Paulo, no Capibaribe, em Recife, e no Paraibuna, em Juiz de Fora. De um modo geral, os rios que atravessam grandes cidades brasileiras se caracterizam pelas águas contaminadas e o mau cheiro.
Como uma tentativa de contornar essa situação, surgiu a Lei das Águas (lei federal no. 9.433, de 9/1/1997). A lei estabelece um prazo para que os municípios brasileiros enfrentem e, quem sabe, comecem a reverter a situação preocupante em que se encontram suas fontes e cursos d’água.
Alguns políticos e planejadores urbanos têm falado na construção de grandes estações de tratamento de esgoto. Infelizmente, porém, construir uma estação dessas ainda custa caro. Mas há alternativas menos custosas – e talvez mais efetivas – que poderiam desde já ser implementadas.
Uma alternativa envolveria a captação e tratamento do esgoto na própria unidade domiciliar, procedimento esse cuja adoção poderia ser estimulada pelos governantes, envolvendo, por exemplo, a redução ou até mesmo a suspensão de certos impostos para quem tratasse o seu próprio esgoto.
Com isso, poderíamos entrar, quem sabe, em um círculo virtuoso: reduzindo a emissão de esgoto doméstico, favorecemos a restauração da vida aquática o que, por sua vez, pode levar ao embelezamento da paisagem e à recuperação de áreas urbanas hoje desvalorizadas ou em franca decadência.
Em um cenário de recuperação como esse, seria possível, entre outras coisas, começar a desfazer antigas canalizações de córregos (o que já ocorre em cidades da Europa, por exemplo), ao invés de pensar em promover novas (e absurdas) canalizações.
Um outro problema bastante comum envolve o descarte de lixo em cursos d’água, procedimento que muitas vezes reflete a desinformação ou apenas o estado de espírito de seus agentes.
Despejar lixo doméstico a céu aberto equivale a dar um tiro no próprio pé. Se não, vejamos: a parcela orgânica do lixo – restos de comida, por exemplo – serve de alimento para uma ampla variedade de animais urbanos, alguns dos quais dificilmente são bem-vindos na casa de alguém, como é o caso de moscas, baratas e ratos.
Esses consumidores primários, por sua vez, servem de alimento para animais de níveis tróficos superiores, como é o caso de escorpiões e serpentes que se alimentam de baratas e ratos, respectivamente.
Não custa enfatizar: escorpiões e serpentes não aparecem em terrenos baldios por causa de lixo ou do ‘mato’ que eventualmente prospera, mas sim por causa de outros animais, muito mais numerosos e oportunistas, que chegaram antes ao lugar, atraídos que foram pelas refeições grátis fornecidas por moradores humanos.
O pior de tudo é que esse círculo vicioso prospera com freqüência mesmo em bairros regularmente atendidos pelo serviço de coleta de lixo. Não jogar lixo a céu aberto seria, portanto, uma regra de ouro para quem vive em aglomerados urbanos e não quer continuar cultivando problemas desse tipo.
O ‘mato’ – a vegetação miúda que comumente prospera em terrenos baldios – pouco ou nada tem a ver com o problema.
De resto, cabe lembrar o seguinte: o ‘mato’ que vemos crescer ao longo de córregos e rios urbanos em geral é formado de gramíneas (capins) e algumas outras plantas pioneiras que só prosperam em hábitats abertos, expostos à insolação direta.
Como essas áreas são foiçadas ou capinadas todos os anos, as plantas pioneiras – cuja ‘força’ está armazenada na raiz subterrânea – sempre voltam a crescer rapidamente, sem maiores problemas. Nesse sentido, a capina é um outro exemplo de tiro no próprio pé. Vejamos por quê.
As prefeituras podem continuar deslocando funcionários e alocando recursos para o serviço de capina, a exemplo do que o governo federal e os governos estaduais fazem com certa freqüência ao longo de rodovias federais e estaduais.
Há, porém, alternativas inteligentes e inteiramente gratuitas. Uma delas: permitir que a sucessão ecológica prossiga ao longo das margens.
Como? É simples: evitando o corte de arbustos ou árvores jovens que estejam crescendo em meio ao capinzal. Ao contrário das gramíneas e outras plantas de crescimento rápido, árvores e arbustos investem uma parcela maior do orçamento na construção e manutenção das partes aéreas (folhas de vida longa, troncos e ramos suberizados etc.) e, por isso mesmo, crescem mais devagar.
O único inconveniente do corte seletivo é que ele é mais demorado, pois será necessário prestar atenção ao que se corta – não dá para simplesmente passar a foice sem olhar.
Ao fim de um ou dois anos, no entanto, a diferença já poderá ser notada. E, nesse caso, teremos trocado um círculo vicioso por um círculo virtuoso: à medida que arbustos e árvores prosperam (quer seja às margens de rios, córregos ou rodovias), a vegetação pioneira perde ‘força’.
Como gramíneas e outras plantas pioneiras são intolerantes ao sombreamento, à medida que a vegetação arbórea ganha altura, a vegetação miúda do estrato inferior cresce menos ou mesmo desaparece.
Após três ou quatro anos de corte seletivo, ao invés de um denso capizal, teremos fileiras de arbustos e árvores em crescimento. A partir de então, precisaríamos apenas manejar essa vegetação, mas nunca mais teríamos de gastar tempo e recursos com o serviço de capina.
Felipe A. P. L. Costa é autor de 'Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas' (2003) e 'A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra' (2006).
6 de mar. de 2011
O nome da planta
O nome científico das plantas é formado basicamente por duas palavras. O sistema binomial foi usado de modo consistente pela primeira vez por Carl von Linné (1707-1778), em seu livro Species Plantarum, de 1753. No sistema binomial, a primeira palavra é um substantivo e designa o gênero da planta; a segunda é um adjetivo e é chamada de epíteto específico. O epíteto específico pode fazer referência a uma característica (morfológica, geográfica, química etc.) notável da planta ou ser uma homenagem a alguém. Por exemplo, Allagoptera arenaria é o nome científico de uma palmeira que cresce em terrenos arenos, daí o nome arenaria. Já os epítetos de Ipomoea coccinea e Ipomoea purpurea fazem alusão à cor vermelha e púrpura de suas flores, respectivamente. Por fim, o epíteto específico de Monstera adansonii é uma homenagem a Michel Adanson (1727-1806).
Quando queremos comunicar ou buscar informações fidedignas sobre algum tipo de planta, devemos antes conhecer o seu nome científico. Não basta, nessas horas, conhecer o nome popular da planta; e há bons motivos para isso. O nome popular em geral está limitado a um determinado idioma - o nome popular de uma planta em português dificilmente seria o mesmo em inglês, por exemplo. Além disso, dentro de um país tão grande e com tanta diversidade cultural como é o nosso, os nomes populares de uma mesma planta podem variar de região para região. Assim, uma mesma espécies de planta pode receber diferentes nomes ou então um mesmo nome pode ser aplicado a diferentes espécies botânicas. Dependendo da região, "cambará" pode ser Lantana camara (Verbenaceae), Vernonia laevigata (Asteraceae ou Compositae), Gochnatia polymorpha (Asteraceae ou Compositae) ou Vochysia divergens (Vochysiaceae) - nesse caso, um mesmo nome está sendo aplicado não só a plantas de espécies diferentes, mas a plantas de famílias botânicas diferentes. Ademais, muitas plantas que não chamam a nossa atenção ou não têm importância econômica carecem de nomes populares. É o uso de um sistema internacional de nomenclatura botânica que confere estabilidade e precisão ao intercâmbio de informações sobre plantas entre pessoas do mundo inteiro.
M. Eiterer
20 de fev. de 2011
A rainha das formigas
Anfisbenas
Um animal que adora comer formigas. O sonho de todo jardineiro ou agricultor. Esse animal existe, mas ele é morto por pessoas que, por causa do corpo alongado, acham que é uma serpente. Seu nome é Amphisbaenea alba. As anfisbenas não são serpentes. Elas são inofensivas.
As anfisbenas são répteis parentes dos lagartos e das serpentes. A maioria das espécies são encontradas na América do sul e na África. A palavra anfisbena é de origem grega, que significa “que vai em duas direções”, pois ela conseguem andar de marcha à ré. Elas também são conhecidas por cobra-de-duas-cabeças ou cobra-cega ou rainha das formigas. Ela cava túneis com a cabeça que é muito forte. Possui um par de olhos bem pequenos e embutidos protegidos por uma pele. É quase cega, mas sua audição e olfato são excelentes. Quando ameaçada levanta a cabeça, ao mesmo tempo a ponta da cauda e abre a boca. Fazem isso apenas para assustar. Ela não é peçonhenta.
Podemos ver as anfisbenas quando elas saem para caçar e em dias muitos chuvosos, quando suas galerias ficam inundadas.É carnívora, come insetos e preferem as formigas cortadeiras. Por isso, o nome rainha das formigas. Coloca ovos na superfície do solo, mas há algumas espécies vivíparas.
Eu fico muito feliz quando encontro uma anfisbena no meu jardim. Vou logo mostrando a entrada de algum formigueiro, em pouco tempo ela desaparece dentro dele. O indivíduo que ilustra esse texto foi encontrada por meu filho de apenas 12 anos. Ele já está familiarizado com as anfisbenas e sabe que elas ajudam a controlar as populações de formigas do nosso jardim.
M. Eiterer
14 de jan. de 2011
A ave e o mosquito
A história de como o pardal chegou no Brasil
São duas histórias que se confundem, a de uma pequena ave e a de um mosquito. Ambos exóticos, isto é, espécies introduzidas em uma área onde não existiam originalmente. Eles foram introduzidos no Brasil em momentos e de formas diferentes, mas os dois colonizaram rapidamente o território brasileiro. Vou começar pelo mosquito porque ele chegou primeiro. Nossa briga com ele não é de hoje. Sim, ele mesmo! O tão falado Stegomyia aegypti. Ele chegou ao Brasil no século XVII. Ficou surpreso? Espere então até ouvir o resto dessa história.O pardal não se alimenta exclusivamente de insetos, seu bico é projetado para esmagar grãos. Ele é um onívoro. Os machos e as fêmeas são diferentes. O macho tem um babador preto, a testa e o alto da cabeça cinzas e o dorso acastanhado com marcas escuras. As fêmeas não possuem babador preto, sua plumagem é marrom clara e tem uma sobrancelha branca que vai do olho até a nuca. A voz do pardal é rouca e barulhenta.
COSTA, Felipe A. P. L. Qual é o nome do mosquito? Observatório da Imprensa, edição 737. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/qual_e_o_nome_do_mosquito>. Acesso em: 20/03/2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância epidemiológica da febre amarela. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional da Saúde, 1999.
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.