"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

Ciência no Jardim

'Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre.' Gerald Durrell

Você sabe quanto de carbono seu jardim sequestra?

Como podemos ‘limpar’ nossa atmosfera de todo gás carbônico excedente? Há vários sequestradores de carbono, plantas são um deles. Sendo assim, todo jardim sequestra carbono. Mas, quanto carbono seu jardim sequestra?

Agapanthus africanus ou Agapanthus praecox?

Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. (...) Qualquer Agapanthus designado ‘africanus' no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.

A margarida não é uma só flor

Quem diria que uma das flores mais populares de nossos jardins, a margarida, pertencente à família Asteraceae, e, portanto, parente dos girassóis, crisântemos, entre outras, não é uma só flor, mas a reunião de muitas flores?

Plantas que fogem do jardim

Parece estranho plantas ‘fugirem’ do jardim, mas é isso mesmo. Plantas podem escapar do cultivo reservado do jardim e invadir áreas de florestas e campos naturais, tornado-se uma grande ameça à biodiversidade.

16 de mar. de 2011

A revolução das plantas secas


Herbário do Museum National d`Histoire Naturelle, em Paris, França. Foto: Wikipedia.
Amostras de material botânico têm sido colecionadas por naturalistas e biólogos há centenas de anos. Coleções de plantas secas - usadas, por exemplo, para documentar a descrição de espécies novas - são chamadas de herbários. A técnica empregada para preparar essas amostras recebe o nome de herborização e é tão antiga quanto simples: podemos secar amostras de material botânico prensando-as entre folhas de papel - jornais velhos, por exemplo.
A herborização foi primeiramente utilizada por ilustradores botânicos, preocupados em preservar as características naturais das plantas que retratavam. Com o barateamento do papel na Europa, após o surgimento das primeiras fábricas, ainda no século XII, o material tornou-se mais acessível, o que facilitou a difusão da herborização e o desenvolvimento dos herbários.
Luca Ghini (1490-1556). Foto: Wikipedia. Luca Ghini (1490-1556), professor de botânica da Universidade de Bologna, na Itália, é considerado o primeiro botânico a usar técnicas de herborização. Seu herbário pessoal data de 1520. Ghini difundiu a técnica entre colegas, além de incentivar o intercâmbio de plantas herborizadas.
Os herbários modernos são verdadeiros repositórios de informação, armazenando coleções de importância local, nacional ou internacional, dependendo da abrangência do material colecionado. Suas funções incluem identificação, pesquisa e educação. Consultando coleções de herbários podemos ter uma idéia da distribuição geográfica e do comportamento (época de floração) das espécies. Mais recentemente, o material herborizado também tem sido usado em estudos moleculares (contagem de cromossomos, análise de DNA, extração de substâncias químicas etc.).

Todo material herborizado é registrado e recebe uma etiqueta com informações padronizadas, tais como: identificação da espécie, local e data de coleta e nome do coletor. Vale notar que nem sempre o coletor é também o responsável pela identificação; ao contrário, o mais comum é que a identificação específica seja feita por um especialista no grupo, anos após o material ter sido depositado no herbário.
Existem hoje cerca de 3,3 mil herbários em todo o mundo. Há um catálogo mundial de herbários, chamado Index Herbariorum, no qual todos eles devem estar devidamente registrados. O maior herbário do mundo está no Musèum National d`Histoire Naturelle, em Paris; foi fundado em 1635 e abriga hoje cerca de 7,5 milhões de exemplares. Para se ter uma idéia, basta dizer que esse total equivale à soma do acervo de todos os herbários brasileiros. O maior herbário brasileiro, que é também o mais antigo, está no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Foi criado por Ludwig Riedel, em 1831, e conta hoje com 500 mil exemplares.
Museu Nacional. Foto: Wikipedia.
Alguns dos mais importantes herbários do mundo estão sendo informatizados, permitindo assim que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, tenha acesso aos respectivos acervos via Internet. Esse é o caso, por exemplo, do New York Botanical Garden e do Neotropical Herbarium Specimens, ambos nos Estados Unidos; experimente: Virtual Herbarium.

M. Eiterer




12 de mar. de 2011

O que é um cultivar?



Cultivar é um termo relativamente moderno, derivado da expressão "variedade cultivada", que foi cunhado pelo botânico americano Liberty Hyde Bailey (1858-1954).
Liberty Hyde Bailey. Foto: Wikipedia. Podemos definir cultivar como um conjunto de plantas cultivadas, claramente reconhecidas pela presença de um ou mais caracteres (morfológico, fisiológico, citológico etc.) distintivos hereditários - i.e., caracteres que são transmitidos aos descendentes. O termo não deve ser confundido com "variedade botânica", expressão utilizada para caracterizar uma população natural morfologicamente distinta e de ocorrência geográfica restrita.
Vejamos um exemplo:
Um horticultor cultivando a bromélia Aechmea fasciata descobriu indivíduos com folhas de uma coloração diferente. Ele conseguiu reproduzir a planta e seus descendentes sucessivas vezes, via sementes e mudas, e a característica distintiva permaneceu em evidência. Nesse caso, podemos afirmar que entre os indivíduos de Aechmea fasciata cultivados pelo horticultor surgiu uma nova variedade, reconhecida pela coloração distintiva de suas folhas. Esse novo cultivar deve ser formalmente nomeado e registrado, inclusive para fins de proteção e comercialização.
Aechmea fasciata. Foto: Wikipedia. Aechmea 'Starbrite'. Foto: Wikipedia.
Esse processo de nomeação e publicação de cultivares é regulamentado por um código próprio, o Código Internacional de Nomenclatura para Plantas Cultivadas. Só para as plantas do gênero Aechmea, citado no exemplo acima, existem perto de 400 cultivares registrados e outros continuam sendo registrados a cada ano, de acordo com o Florida Council of Bromeliads Societies.
Para a nomeação de um cultivar, podemos usar uma ou mais palavras vernaculares, em caracteres romanos (nunca em itálico), sempre com a primeira letra em maiúscula e entre aspas simples.
Exemplo: Aechmea fasciata ‘Silver Queen’.
Observe a diferença na escrita do nome da espécie e do cultivar. Alternativamente, pode-se usar a abreviação da palavra cultivar (cv.), dispensando com isso o uso das aspas simples. Assim, teríamos: Aechmea fasciata cv. Silver Queen. O nome de um cultivar pode ser usado após o nome da espécie, como visto acima, ou apenas após o nome genérico, como em Aechmea ‘Silver Queen’.
No Brasil, há um sistema nacional de registro de cultivares de sementes e mudas, notadamente para fins de comercialização, o chamado Registro Nacional de Cultivares, realizado pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, repartição vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


M. Eiterer



9 de mar. de 2011

Vamos deixar o mato crescer

Entra ano, sai ano e as manchetes reaparecem na imprensa: ‘Moradores reclamam de mau cheiro do córrego que corta o bairro’, ‘Moradores pedem capina de mato que atrai cobras e ratos’, ‘Moradores reivindicam canalização de córrego’ e assim por diante. As frases podem até variar, mas expressões como ‘mau cheiro’, ‘ratos e cobras’ e ‘mato’ são recorrentes.

Não há porque duvidar que essas coisas incomodam ou de fato atormentam a vida dos moradores. Isso não significa dizer, no entanto, que as providências solicitadas – ‘cortar o mato’ ou ‘canalizar o córrego’ – sejam soluções efetivas. Talvez fosse o caso de perguntar antes: afinal, qual é a origem desses problemas?

Muitas cidades são a versão contemporânea de aglomerados humanos que surgiram e prosperaram às margens de um corpo d’água, na maioria das vezes um rio.

Além de atender necessidades humanas óbvias (fontes de água, por exemplo), morar nas proximidades de um rio já foi tido como sinal de fartura e prosperidade. Hoje em dia, no entanto, muitas cidades brasileiras têm vergonha de seus rios, preferindo escondê-los.

A razão para isso é quase sempre a mesma: transformamos os rios em escoadouros de dejetos, restos e lixo em geral, convertendo-os em esgotos a céu aberto.

Foi assim no rio Tietê, em São Paulo, no Capibaribe, em Recife, e no Paraibuna, em Juiz de Fora. De um modo geral, os rios que atravessam grandes cidades brasileiras se caracterizam pelas águas contaminadas e o mau cheiro.

Como uma tentativa de contornar essa situação, surgiu a Lei das Águas (lei federal no. 9.433, de 9/1/1997). A lei estabelece um prazo para que os municípios brasileiros enfrentem e, quem sabe, comecem a reverter a situação preocupante em que se encontram suas fontes e cursos d’água.

Alguns políticos e planejadores urbanos têm falado na construção de grandes estações de tratamento de esgoto. Infelizmente, porém, construir uma estação dessas ainda custa caro. Mas há alternativas menos custosas – e talvez mais efetivas – que poderiam desde já ser implementadas.

Uma alternativa envolveria a captação e tratamento do esgoto na própria unidade domiciliar, procedimento esse cuja adoção poderia ser estimulada pelos governantes, envolvendo, por exemplo, a redução ou até mesmo a suspensão de certos impostos para quem tratasse o seu próprio esgoto.

Com isso, poderíamos entrar, quem sabe, em um círculo virtuoso: reduzindo a emissão de esgoto doméstico, favorecemos a restauração da vida aquática o que, por sua vez, pode levar ao embelezamento da paisagem e à recuperação de áreas urbanas hoje desvalorizadas ou em franca decadência.

Em um cenário de recuperação como esse, seria possível, entre outras coisas, começar a desfazer antigas canalizações de córregos (o que já ocorre em cidades da Europa, por exemplo), ao invés de pensar em promover novas (e absurdas) canalizações.

Um outro problema bastante comum envolve o descarte de lixo em cursos d’água, procedimento que muitas vezes reflete a desinformação ou apenas o estado de espírito de seus agentes.

Despejar lixo doméstico a céu aberto equivale a dar um tiro no próprio pé. Se não, vejamos: a parcela orgânica do lixo – restos de comida, por exemplo – serve de alimento para uma ampla variedade de animais urbanos, alguns dos quais dificilmente são bem-vindos na casa de alguém, como é o caso de moscas, baratas e ratos.

Esses consumidores primários, por sua vez, servem de alimento para animais de níveis tróficos superiores, como é o caso de escorpiões e serpentes que se alimentam de baratas e ratos, respectivamente.

Não custa enfatizar: escorpiões e serpentes não aparecem em terrenos baldios por causa de lixo ou do ‘mato’ que eventualmente prospera, mas sim por causa de outros animais, muito mais numerosos e oportunistas, que chegaram antes ao lugar, atraídos que foram pelas refeições grátis fornecidas por moradores humanos.

O pior de tudo é que esse círculo vicioso prospera com freqüência mesmo em bairros regularmente atendidos pelo serviço de coleta de lixo. Não jogar lixo a céu aberto seria, portanto, uma regra de ouro para quem vive em aglomerados urbanos e não quer continuar cultivando problemas desse tipo.

O ‘mato’ – a vegetação miúda que comumente prospera em terrenos baldios – pouco ou nada tem a ver com o problema.

De resto, cabe lembrar o seguinte: o ‘mato’ que vemos crescer ao longo de córregos e rios urbanos em geral é formado de gramíneas (capins) e algumas outras plantas pioneiras que só prosperam em hábitats abertos, expostos à insolação direta.

Como essas áreas são foiçadas ou capinadas todos os anos, as plantas pioneiras – cuja ‘força’ está armazenada na raiz subterrânea – sempre voltam a crescer rapidamente, sem maiores problemas. Nesse sentido, a capina é um outro exemplo de tiro no próprio pé. Vejamos por quê.

As prefeituras podem continuar deslocando funcionários e alocando recursos para o serviço de capina, a exemplo do que o governo federal e os governos estaduais fazem com certa freqüência ao longo de rodovias federais e estaduais.

Há, porém, alternativas inteligentes e inteiramente gratuitas. Uma delas: permitir que a sucessão ecológica prossiga ao longo das margens.

Como? É simples: evitando o corte de arbustos ou árvores jovens que estejam crescendo em meio ao capinzal. Ao contrário das gramíneas e outras plantas de crescimento rápido, árvores e arbustos investem uma parcela maior do orçamento na construção e manutenção das partes aéreas (folhas de vida longa, troncos e ramos suberizados etc.) e, por isso mesmo, crescem mais devagar.

O único inconveniente do corte seletivo é que ele é mais demorado, pois será necessário prestar atenção ao que se corta – não dá para simplesmente passar a foice sem olhar.

Ao fim de um ou dois anos, no entanto, a diferença já poderá ser notada. E, nesse caso, teremos trocado um círculo vicioso por um círculo virtuoso: à medida que arbustos e árvores prosperam (quer seja às margens de rios, córregos ou rodovias), a vegetação pioneira perde ‘força’.

Como gramíneas e outras plantas pioneiras são intolerantes ao sombreamento, à medida que a vegetação arbórea ganha altura, a vegetação miúda do estrato inferior cresce menos ou mesmo desaparece.

Após três ou quatro anos de corte seletivo, ao invés de um denso capizal, teremos fileiras de arbustos e árvores em crescimento. A partir de então, precisaríamos apenas manejar essa vegetação, mas nunca mais teríamos de gastar tempo e recursos com o serviço de capina.

EITERER, M. & COSTA, F. A. P. L. 2007. Vamos deixar o mato crescer! Jornal da Ciência 3280. 

Felipe A. P. L. Costa é autor de 'Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas' (2003) e 'A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra' (2006).




6 de mar. de 2011

O nome da planta

A denominação de uma planta é chamada de nomenclatura botânica. A nomenclatura botânica segue os princípios e normas do Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ou ICBN do nome em inglês, International Code of Botanical Nomenclature). O objetivo do código é apresentar métodos estáveis de nominação, prevenindo e refutando o uso de nomes que gerem erros, ambigüidade ou confusão evitando, assim, a criação desnecessária de nomes. As normas do código, no entanto, estão sujeitas a modificações e são periodicamente discutidas em congressos internacionais de botânica. 
O nome científico das plantas é formado basicamente por duas palavras. O sisteSpecies plantarum. Foto: Wikipediama binomial foi usado de modo consistente pela primeira vez por Carl von Linné (1707-1778), em seu livro Species Plantarum, de 1753. No sistema binomial, a primeira palavra é um substantivo e designa o gênero da planta; a segunda é um adjetivo e é chamada de epíteto específico. O epíteto específico pode fazer referência a uma característica (morfológica, geográfica, química etc.) notável da planta ou ser uma homenagem a alguém. Por exemplo, Allagoptera arenaria é o nome científico de uma palmeira que cresce em terrenos arenos, daí o nome arenaria. Já os epítetos de Ipomoea coccinea e Ipomoea purpurea fazem alusão à cor vermelha e púrpura de suas flores, respectivamente. Por fim, o epíteto específico de Monstera adansonii é uma homenagem a Michel Adanson (1727-1806). 

Quando queremos comunicar ou buscar informações fidedignas sobre algum tipo de planta, devemos antes conhecer o seu nome científico. Não basta, nessas horas, conhecer o nome popular da planta; e há bons motivos para isso. O nome popular em geral está limitado a um determinado idioma - o nome popular de uma planta em português dificilmente seria o mesmo em inglês, por exemplo. Além disso, dentro de um país tão grande e com tanta diversidade cultural como é o nosso, os nomes populares de uma mesma planta podem variar de região para região. Assim, uma mesma espécies de planta pode receber diferentes nomes ou então um mesmo nome pode ser aplicado a diferentes espécies botânicas. Dependendo da região, "cambará" pode ser Lantana camara (Verbenaceae), Vernonia laevigata (Asteraceae ou Compositae), Gochnatia polymorpha (Asteraceae ou Compositae) ou Vochysia divergens (Vochysiaceae) - nesse caso, um mesmo nome está sendo aplicado não só a plantas de espécies diferentes, mas a plantas de famílias botânicas diferentes. Ademais, muitas plantas que não chamam a nossa atenção ou não têm importância econômica carecem de nomes populares. É o uso de um sistema internacional de nomenclatura botânica que confere estabilidade e precisão ao intercâmbio de informações sobre plantas entre pessoas do mundo inteiro.


M. Eiterer