"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

5 de dez. de 2010

Verrugas nas plantas?

Galhas, também conhecidas como cecídeas, são uma das doenças mais comuns em plantas. Seis em cada dez famílias conhecidas de vegetais são atacadas por elas. As galhas espalham-se pelos brotos, folhas, botões de flor, ramos, caule e raiz. Ao contrário das verrugas humanas, elas não são causadas por vírus, mas por bactérias, fungos, ácaros, vermes ou insetos, que são chamados galhadores ou cecidógenos.
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Galhas em folha de cambará (Lantana camara). Foto: M. Eiterer
De forma resumida, pode-se dizer que as galhas são uma deformação no tecido da planta causada pela ação desses organismos, que como já vimos, podem ser os mais diversos. Para entender, vejamos os exemplo de um inseto galhador. A fêmea bota seus ovos sobre a planta – ou no interior do tecido, dependendo da espécie – e os abandona. Dos ovos, algum tempo depois, nascem as larvas e , a partir de então, tem início o processo de formação das galhas.
A larva do inseto dirige-se para alguma região da planta onde poderá se desenvolver. O local escolhido pela larva é chamado meristema, a parte do tecido da planta que ainda pode crescer – em geral, as folhas, mesmo depois de totalmente desenvolvidas, conservam pequenas áreas que possibilitam a formação de galhas. E como isso acontece? quando a larva começa a se alimentar, a galha vai crescendo. Mas não pense que ela cresce à medida que o futuro inseto vai engordando.
O que acontece é que para se alimentar do amido presente na planta, a larva lança sobre ele uma enzima que vai torná-la pronto para a sua digestão. Daí, a substância liberada pela larva estimula as células da planta a se multiplicar, produzindo aquele caroço ou verruga, a galha!
Vale lembrar que alguns pesquisadores consideram que as galhas já estão formadas desde o momento em que a fêmea do inseto coloca seus ovos sob o tecido da planta. Mas a maioria acredita que a formação da galha se dá da forma que acabamos de ver, quando a larva se alimenta e estimula a planta a multiplicar-se suas células.
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Galha. Foto: M. Eiterer
Dentro da galha, a larva encontra muito mais alimento do que em qualquer outra parte da planta. encontra, abrigo, mas não muita segurança. Por que? Bom, primeiro é preciso dizer que, embora os insetos não-galhadores costumam habitar a galha depois que os galhadores já a abandonaram, existem casos em que galhadores e não-galhadores habitem a mesma galha ao mesmo tempo. Existem casos também, em que os galhadores são destruídos por um grupo de insetos especializados os micro-himenópteros, provando que as galhas na função de abrigo não são totalmente seguras.
Os insetos que causam as galhas que se alimentam de vegetais, os chamados fitófagos. Esses insetos pertencem a grupos variados e a larva de cada um deles é capaz de produzir galhas diferentes. As larvas de insetos dos chamados grupos superiores – nos quais se incluem os besouros, as moscas, as borboletas e as abelhas – geralmente produzem galhas fechadas e a maioria contém uma larva por galha. Existem, também galhas abertas provocadas pela ação de um inseto picador, como os pulgões. As galhas podem, ainda, ter formas arredondadas ovais e de funículo, entre outras. Os causadores de galhas mais comuns são os dípteros grupo das moscas, mosquitos e pernilongos) e os himenópteros ( do grupo das abelhas, vespas e formigas).
É interessante saber que todas as fases de desenvolvimento do inseto galhador acontecem dentro da galha. Ele só a abandona quando se torna adulto.
Outro aspecto que devemos lembrar é que a galha é uma dilatação anormal do tecido das plantas e, por isso, pode prejudicar os vegetais. Pés de mandioca, algodão, eucalipto e manga, por exemplo, quando são atacados por galhas, ficam mais frágeis e podem até morrer. Mas imagina que, por outro lado, as galhas podem ser úteis, impedindo a reprodução das ervas daninhas, fornecendo tintas de boa qualidade, ácido tânico para amaciar couro e substâncias que podem ser usadas no tratamento de inflamações da boca, diarréias etc. Coisas da natureza!

SILVA, Maria Amato Conceição Bueno da. 2001. Verrugas nas plantas! Revista Ciência Hoje das Crianças,  nº 110.

M.Eiterer é bióloga/botânica. Adora jardins e plantas desde crianças, já plantou tantas árvores que perdeu a conta.Escreve também para o blog Aves de Viçosa. Leia o perfil completo.

Um comentário:

  1. Marinês, você já deve ter reparado a enorme diversidade de galhas em Melastomataceae. As formas são muito diversificadas. Cada uma mais curiosa que a outra!

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