Néctar é o nome da solução açucarada produzida pelas plantas no interior de uma estrutura secretora chamada nectário. Desde os tempos de Aristóteles, no século 4 a.C., já se sabia que as abelhas coletavam uma substância adocicada produzida pelas flores e que a estocavam em suas colméias. Naquela época, porém, ainda não se fazia distinção entre néctar e mel.
A palavra néctar foi usada pela primeira vez pelo botânico francês Jean de la Ruelle (1474-1537). O termo nectário, no entanto, só apareceu na literatura científica quase 200 anos depois e o primeiro a usá-lo, ao que parece, foi Carl von Linné (1707-1778), em 1735.
Os nectários surgiram antes das flores. A planta com nectários mais primitiva que se conhece, a samambaia Pteridium aquilinum, não possui flores [1]. Entre as gimnospermas, plantas igualmente desprovidas de flores, nectários são particularmente comuns em espécies dos gêneros Ephedra (Ephedraceae) e Welwitschia (Welwitschiaceae). Foi só com o surgimento das angiospermas que os nectários passaram a produzir néctar como atrativo floral.
Alguns autores modernos argumentam que os nectários estariam inicialmente envolvidos com a excreção do excesso de açúcar produzido pelas folhas. Há, porém, outras interpretações. Seja qual for a origem dos nectários, produzir néctar é uma função sabidamente dispendiosa. Para ter uma idéia, o volume de néctar produzido por uma planta pode consumir até 37% de toda a sua produção fotossintética diária [2]. Não é à-toa, portanto, que as plantas sejam capazes de reabsorver (isto é, metabolizar) seu próprio néctar, utilizando os produtos desse metabolismo em outras funções.
Uma questão de nomenclatura
A relação entre néctar e polinização só foi estabelecida no século 19, graças aos estudos de Christian K. Sprengel (1759-1816), F. H. G. Hildebrand (1835-1915) e Charles Darwin (1809-1882). Na mesma época, Johann X. R. Caspary (1818-1887) propôs uma distinção entre nectários florais e extraflorais. Nectários florais seriam aqueles que ocorrem dentro de flores, enquanto os extraflorais seriam encontrados nas partes vegetativas do corpo da planta, como pecíolo, lâmina foliar etc. Um exemplo familiar de planta com nectário extrafloral é o maracujá comum (Passiflora), cujo pecíolos foliares ostentam um par dessas estruturas.
Uma nomenclatura alternativa para os nectários, levando em conta aspectos funcionais, foi proposta pelo botânico italiano Federico Delpino (1833-1905). De acordo com ele, teríamos dois tipos de nectários: o nupcial e o extranupcial. O primeiro seria aquele nectário que participa mais diretamente do processo de polinização (as 'núpcias'), enquanto o segundo não estaria envolvido nesse processo. A nomenclatura proposta por Caspary, contudo, terminou prevalecendo.
M. Eiterer & Felipe A.P.L. Costa
Felipe A.P .L Costa é biólogo, autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006).
Notas
1. Outras espécies de samambaias também possuem nectários; ver, por exemplo, Koptur, S.; Rico-Gray, V. & Palacios-Rios, M. 1998. Ant protection of the nectaried fern Polypodium plebeium in central Mexico. American Journal of Botany 85: 736-739.
2. Para um estudo meticuloso, ver Pyke, G. H. 1991. What does it cost a plant to produce floral nectar? Nature 350: 58-60.
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