Segredos do florescimento
As primeiras angiospermas (ou plantas com flores) surgiram há uns 130 milhões de anos. Cerca de 230 mil espécies diferentes de angiospermas já foram formalmente descrita e nomeadas pelos botânicos. Assim como ocorre com os seres humanos, as plantas também passam por fases ou estágios de desenvolvimento.
Nas plantas, no entanto, as mudanças de fase não provocam alterações em todo o corpo do organismo, mas apenas em certas regiões, notadamente no ápice do caule, onde está localizado o meristema apical. O ápice do caule passa por três fases: juvenil, vegetativa e reprodutiva. É na fase reprodutiva que a planta passa a produzir flores. A flor nada mais é do que um ramo de crescimento efêmero, ornado com "folhas especiais" que servem para a reprodução sexuada - i.e., a produção de descendentes geneticamente distintos. Mas o que faz com que uma planta floresça, passando assim da juvenilidade para a maturidade?
A floração é um evento complexo. Sob determinadas circunstâncias, a planta recebe um sinal de que está na hora de florescer. Esse sinal pode ser de origem interna (da própria planta) ou externa (do ambiente em que a planta cresce). Os sinais internos podem ter a ver com a idade, tamanho ou número de folhas que a planta sustenta. Os sinais externos mais comuns são o comprimento do dia [1] ou a temperatura [2].
As folhas e raízes são os órgãos normalmente envolvidos com o reconhecimento desses sinais. O sinal adequado induz a planta a produzir determinada resposta, que pode ser traduzida por uma aumento na concentração de um ou outro sinalizador químico. Quando chega no lugar apropriado - no caso, o ápice caulinar -, o sinalizador químico termina evocando [3] a floração. Uma planta pode precisar de mais de um sinal, mais de uma resposta química e percorrer vários caminhos até conseguir evocar a floração. Quando a evocação ocorre, o meristema apical deixa de produzir folhas e passa então a produzir flores.
Até as primeiras décadas do século 20, acreditava-se na existência de um "florígeno", uma substância que induziria qualquer planta a florescer. Hoje sabemos que não existe um florígeno ou um anti-florígeno universal; ao contrário, sabemos que há vários inibidores e promotores (o etileno promove a floração do abacaxi) e, vários caminhos até a floração. Não é de estranhar; afinal, as angiospermas colonizaram e se reproduzem nos mais diversos hábitats do planeta.
Algumas plantas ornamentais são comercializadas floridas, a despeito da época do ano, como é o caso de crisântemos (Dendranthema grandiflorum), calânchoes (Kalanchoe blossfeldiana), poinséteas (Euphorbia pucherrima) e íris (Neomarica caerulea). Isso, no entanto, só é possível por causa de pesquisas que buscam descobrir os segredos do florescimento, permitindo assim recriar de forma artificial as condições necessárias para evocar a floração dessas espécies durante todo o ano.
M. Eiterer
Notas:
1-As plantas reconhecem e respondem a diferenças no comprimento do dia (dias longos e noites curtas no verão contra dias curtos e noites longas no inverno), por isso algumas plantas florescem no inverno e outras no verão.
2-Agumas plantas precisam receber baixas temperaturas por um período para florescerem.
3-Vocação e um termo semelhante a induzir, mas nesse caso refere-se a mudanças no ápice caulinar que provocam a produção de flores.
Também é interessante notar que em florestas como as de Viçosa-MG sempre há flores, independente da época do ano. Deste fato podemos estabelecer relações além das fisiológicas, como as ecológicas ( por exemplo: adaptação de nicho entre espécies)e até evolutivas (em uma escala de tempo maior).
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