"Desde o momento em que nascemos somos exploradores, num mundo complexo e cheio de fascínio. Para algumas pessoas, o interesse pode desaparecer com o tempo ou com as pressões da vida, mas outras têm a felicidade de mantê-lo vivo para sempre."
Gerald Durrell

22 de fev. de 2015

A manga no Brasil


Manga. Mangifera indica. Foto: Maria Marinho. Wikipedia.


Estamos na época da colheita da manga. Os pés estão carregados. Aqui em Minas, temos um cultivar chamado 'Ubá' em referência a cidade de Ubá, em Minas Gerais, onde esse cultivar desenvolve-se maravilhosamente, produzindo mangas muitos doce e com pouquíssima fibra. Existem muitos cultivares diferentes de manga. Se você ainda não sabe o que é um cultivar leia 'O que é um cultivar'. 


A manga é tão comum por aqui que algumas pessoas acham que ela é uma espécie nativa, isto é, brasileira. Mas não é. Ela é uma espécie exótica,  natural da Índia. O nome científico da manga é Mangifera indica, o epíteto indica refere-se a sua localidade de origem. A manga foi descrita em 1753 por Carolus Linnaeus. Contudo,  a manga já era mencionada nos poemas de Kalidasa no século 4 EC.  Assim, sua domesticação é provavelmente muito antiga.

Warrem Dean no seu livro 'A ferro e fogo: a história  e a devastação da Mata Atlântica Brasileira' nos mostra como foram as introduções de algumas espécies de plantas no Brasil e que usamos até hoje, com  a manga:

" (...) Um oficial português, Luiz d'Abreu, capturado pelos franceses e preso nas ilhas Maurício, conseguiu fugir e roubar algumas das sementes antes de deixar a ilha. Trouxe-as ao Rio de Janeiro em 1809.  Incluíam sementes dos tão desejado cravo, canela e noz-moscada, fruta-pão, cânfora, toranja, abacate, sagüeiro e cajá-manga. Sua bagagem clandestina incluía também manga, mas esta fora introduzida havia, mais de um século e já era amplamente plantada no Rio e Janeiro. Abreu também trouxe o abricó, outro exemplar de um cultivar neotropical que chegou ao Brasil via Oriente. Finalmente, presenteou o rei com Roystonea oleraceae, uma palmeira nobre de altura imponente que logo passou a enfeitar todos os jardins aristocráticos no Rio de Janeiros e ainda hoje forma uma impressionante aléia na avenida central do próprio Jardim Botânico.(...)"

Em outro trecho Warrem Dean  argumenta sobre o sucesso da introdução de manga em relação a outra espécies que a princípio não tiveram tanto êxito  e de espécies brasileiras que foram para a Ásia e, adicionadas a  culinária local:  

"(...)
Exceto pela mangueira, que possui a admirável vantagem da resistência às formigas cortadeiras, a fruta-de-conde (talvez uma referência ao conde de Linhares), a jaca e o chuchu, as frutas e os legumes introduzidos no mercado interno nesses anos foram ignorados pela massa da população. Encontraram talvez, pestes ou parasitas, aparentemente invencíveis no Brasil da época, ou quem sabe, a série notável de frutas nativas indígenas havia muito tinham trazido ao cultivo parcial tornassem supérfluas as espécies asiáticas. É interessante notar, contudo, que algumas das plantas brasileiras enviadas a Goa foram amplamente aceitas na cozinha sul-asiática, principalmente caju, mamão, cereja do Suriname, maracujá e abacaxi.(...)".

Assim, a manga foi introduzida no Brasil por volta de 1700, talvez pelo tempo muitos brasileiros acreditem que ela é nativa.  Essas introduções até hoje tem grande efeito sobre as nossas espécies nativas. Para entender o problema leia 'Plantas que fogem do jardim'. Sempre quando pergunto: 
- Você conhece o cambucá, o cambuci, o bacupari, a guabiroba? 
A resposta é quase sempre: 
- Só de nome.
Essas são frutas brasileiras que correm o risco de desaparecer para sempre. Enquanto isso em quase todos os pomares existe um pé de manga. Devemos refletir sobre isso!
M. Eiterer

M.Eiterer é bióloga/botânica. Adora jardins e plantas desde crianças, já plantou tantas árvores que perdeu a conta.Escreve também para o blog Aves de Viçosa. Leia o perfil completo.

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