A temperatura da Terra está subindo e a emissão de gases-estufa, provenientes de atividades humanas (como a queima de combustíveis fósseis e as queimadas), é a principal dessa elevação. Segundo cálculos dos climatologistas, a temperatura média da atmosfera deve subir entre dois e seis graus centigrados até o fim do século 21. Pode parecer pouco, mas já seria o suficiente para provocar conseqüências desastrosas em escala planetária.
Um dos efeitos mais diretos do aquecimento global seria a elevação no nível do mar e a inundação de cidades e comunidades litorâneas. Mas muitos outros efeitos são esperados, como o aumento na intensidade de certos fenômenos naturais, como furacões, inundações e secas, e o aumento na incidência de estresses por calor e doenças respiratórias em pessoas que vivem em áreas urbanas.
O aquecimento global também teria um impacto grande na vida das plantas. Árvores de grande porte seriam particularmente vulneráveis às mudanças climáticas. Isso porque muitas crescem durante um período prolongado de tempo antes de começarem a se reproduzir. Além disso, muitas espécies têm uma capacidade limitada de dispersão, comumente espalhando as sementes apenas a curtas distâncias. No fim das contas, as mudanças climáticas podem ser rápidas demais para que espécies com um tempo de geração prolongado consigam evoluir adaptações.
De resto, a fuga para novos hábitats pode ser prejudicada pela presença de barreiras naturais, como montanhas, rios, oceanos, cidades etc. Nesse sentido, árvores de grande porte que vivem em ilhas enfrentarão uma situação duplamente preocupante: o tempo de geração prolongado e as barreiras à dispersão. Nessas circunstâncias, muitas populações deverão desaparecer. Mesmo a estratégia de criar unidades de conservação para proteger populações (vegetais e animais) ameaçadas de extinção pode não ser suficiente para enfrentarmos com sucesso todas as ameaças que um aquecimento global representaria.
Além de desafios novos que encontraremos em futuro próximo, alguns estudos têm mostrado que certas plantas já estão respondendo (em termos evolutivos) às mudanças climáticas. Na Inglaterra, por exemplo, uma espécie de gerânio está antecipando o início da floração em cinco semanas para cada elevação de um grau centígrado na temperatura média anual. Na América do Norte, observações com o indigo (Syringa) e a madressilva (Lonicera) mostram que essas plantas estão florescendo sete dias mais cedo do que o faziam em 1950, quando as observações começaram. Plantas européias estão agora florescendo seis dias mais cedo do que fizeram em 1960 e a estação de crescimento delas tem se prolongado por mais uma ou duas semanas.
Como se não bastasse tudo isso, vale lembrar que muitas plantas dependem da presença de visitantes especializados, sem os quais a polinização das flores simplesmente não ocorre. Com a antecipação do florescimento, a sincronia entre plantas e polinizadores pode ser quebrada. Sem o polinizador certo na época apropriada, os óvulos deixarão de ser fertilizados e as sementes não serão mais formadas. Algo semelhante pode ocorrer entre a planta e os animais que fazem a dispersão de suas sementes.
Para atacar esses problemas de frente, teremos de adotar medidas que reduzam de modo efetivo o volume de gases-estufas que estão sendo despejados anualmente. Caso contrário, o clima continuará mudando depressa demais, ameaçando a sobrevivência de espécies vegetais e animais. Além, claro, de nossa própria espécie.
M. Eiterer
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