A história de como o pardal chegou no Brasil
São duas histórias que se confundem, a de uma pequena ave e a de um mosquito. Ambos exóticos, isto é, espécies introduzidas em uma área onde não existiam originalmente. Eles foram introduzidos no Brasil em momentos e de formas diferentes, mas os dois colonizaram rapidamente o território brasileiro. Vou começar pelo mosquito porque ele chegou primeiro. Nossa briga com ele não é de hoje. Sim, ele mesmo! O tão falado Stegomyia aegypti. Ele chegou ao Brasil no século XVII. Ficou surpreso? Espere então até ouvir o resto dessa história.
O Stegomyia aegypti chegou aqui de navio, por volta de1685, quando ocorreu a primeira epidemia de febre amarela. Isso mesmo! Ele chegou de navio! O Stegomyia aegypti chegou pelo porto de Recife (Pernambuco). O Stegomyia aegypti não consegue voar grandes distâncias, poucas vezes seu voo excede os 100 metros. Assim, é mais provável que o mosquito passe toda sua vida nas proximidades do local onde nasceu. O Stegomyia aegypti consegue alcançar grandes distâncias nas fases de larva e ovo, quando transportados em recipientes. O que provavelmente aconteceu com os navios que chegavam aqui naquela época. Nós transportamos o Stegomyia aegypti de um lugar para outro. Um ano depois já estavam na Bahia causando uma epidemia de febre amarela com muitas mortes. Mas somente em 1898 é que foi comprovado que ele era o transmissor da febre amarela e apenas no início do século vinte que foram adotadas medidas específicas contra o Stegomyia aegypti. O Rio de Janeiro só se veria livre da febre amarela em 1909. E a dengue? Nosso maior temor nessa época era a febre amarela, a dengue só começaria a nos assombrar em 1923 e 1982. O outro personagem dessa história, a ave, foi introduzida em 1906. Já sabemos que ela foi introduzida no Brasil por causa do mosquito e da febre amarela. Mas, que ave é essa? De onde ela veio?
No Brasil, existem muitas aves comedoras de insetos, como o bem-te-vi ou as andorinhas, por exemplo. Mas mesmo assim, em 1906, foram trazidos 200 indivíduos de uma espécie de ave, de Leça da Palmeira, Portugal, para o Rio de Janeiro, para combater o mosquito Stegomyia aegypti A tal ave não era portuguesa e sim de origem asiática. Rapidamente espalhou-se pelo Brasil. Assim como o mosquito, ela se tornou comum. Há até quem ache que é uma ave brasileira. Apenas cinquenta e quatro anos depois, de sua introdução, o Ministério da Agricultura já criava uma portaria colocando essa pequena ave no topo da lista de animais nocivos para o país, seguido pelos morcegos hematófagos e ratos. Hoje, ele é, provavelmente, a terceira ave mais numerosa no mundo, a galinha doméstica (Gallus gallus) é a primeira seguida do estorninho (Sturnus vulgaris). Próximo a sua casa deve ter um bando deles, pois o pardal é gregário, isto é, vive em bandos.
Há quem torça o “bico” quando ouve o nome dessa pequena criatura de apenas 30 g. Pardal. Ele mesmo! O pardal. Seu nome científico é Passer domesticus. Inteligente. Atento. Desconfiado. Percebe quando é perseguido e some. Ele vive nas cidades, sempre perto de casas e depende do ser-humano para sobreviver. O pardal faz seu ninho em beirais, fendas e buracos de nossas casas. Seus inimigos não são poucos: ratos, gambás, morcegos, corujas, gaviões são alguns deles. Em cativeiro chega a viver 23 anos.
O pardal não se alimenta exclusivamente de insetos, seu bico é projetado para esmagar grãos. Ele é um onívoro. Os machos e as fêmeas são diferentes. O macho tem um babador preto, a testa e o alto da cabeça cinzas e o dorso acastanhado com marcas escuras. As fêmeas não possuem babador preto, sua plumagem é marrom clara e tem uma sobrancelha branca que vai do olho até a nuca. A voz do pardal é rouca e barulhenta.
O Stegomyia aegypti foi considerado erradicado do Brasil por duas vezes . A primeira em 1955. Mas, ele voltou pouco tempo depois em 1967, novamente pela costa, em Belém (Pará). Foi erradicado pela segunda vez em 1973. Então, é possível erradicar o mosquito? Sim. Mas não conseguimos evitar sua reintrodução, pois ele foi reintroduzido em 1976, novamente por um porto, agora em Salvador (Bahia). E, o pardal? Cento e quatro anos depois de sua introdução deliberada, o pardal tornou-se um animal antipatizado. Chegou aqui como um herói, hoje é um invasor rechaçado. Agora você conhece a história do pardal e do Stegomyia aegypti, história onde nós somos os personagens principais.
Fontes
COSTA, Felipe A. P. L. Qual é o nome do mosquito? Observatório da Imprensa, edição 737. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/qual_e_o_nome_do_mosquito>. Acesso em: 20/03/2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância epidemiológica da febre amarela. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional da Saúde, 1999.
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
COSTA, Felipe A. P. L. Qual é o nome do mosquito? Observatório da Imprensa, edição 737. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/qual_e_o_nome_do_mosquito>. Acesso em: 20/03/2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância epidemiológica da febre amarela. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional da Saúde, 1999.
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Muito interessante!
ResponderExcluirSabia que o pardal havia sido introduzido, mas não com a intensão de erradicar o Aedes aegypti. Essa história demonstra bem como alguns ambientes são sensíveis às alterações causadas pelo ser-humano.
Marinês, adorei o blog! Os textos são chamativos, criativos e sempre interessantes!
ResponderExcluirJá divulguei para alguns amigos. Acredito que logo logo o blog terá vários seguidores curiosos!
Obrigado por compartilhar esses conhecimentos!
Um abraço
Em Paranaguá, havia muitos pardais,porém resolveram soltar filhotes de gaviões para matar os pombos.Após isto,os pardais começaram a desaparecer,não se viam mais com toda aquela frequência, e pouco tempo depois a cidade se tornou o caos que está com milhares de casos de dengue.
ResponderExcluirOlá, Ana Carolina!Obrigada pelo seu comentários! Existem muitas espécies de aves que comem insetos no Brasil. Casos de epidemia de dengue é um problema mais complexo. Telar janelas e usar mosquiteiros são ações que podem nos proteger de picadas. Cuidar para não ter água parada em casa evita a criação dos mosquitos. Cuidar para que não fique lixo espalhados pelas ruas, estradas e terrenos baldios é outra medida para evitar criadouros. O uso de outras espécies para fazer o controle biológico deve ser feito com muito cuidado e critério.
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